O crescimento da obesidade no Paraná e no Brasil, bem como os tratamentos oferecidos para a população, serão tema do maior Congresso de Cirurgia Bariátrica do mundo, o 25º Congresso da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), que acontece entre os dias 22 e 24 de outubro, em Foz do Iguaçu, no Paraná.
Durante o evento – que reunirá mais de dois mil profissionais entre cirurgiões, equipes multidisciplinares, clínicos e especialistas – temas como o acesso a cirurgia bariátrica no SUS, a importância da certificação de cirurgiões e hospitais para a segurança do paciente, novas tecnologias e medicamentos entrarão em debate.
“Os números mostram que a obesidade deixou de ser um problema individual para se tornar uma questão de saúde pública urgente. O Paraná reflete esta realidade nacional, mas também é o segundo estado que mais realiza cirurgias pelo SUS no Brasil”, afirmou o cirurgião bariátrico, Juliano Canavarros, presidente da SBCBM. “No Congresso, vamos reunir as maiores referências do mundo para compartilhar conhecimento e reforçar que a obesidade tem tratamento”, completou.
Paraná e Foz do Iguaçu
O Paraná é o segundo estado do Brasil que mais realiza cirurgias bariátricas, perdendo apenas para São Paulo. No entanto, já foi líder nacional por muitos anos. Em 2025, segundo o DataSUS, ferramenta de controle de dados do Governo Federal, entre janeiro e agosto de 2025, o Paraná realizou pelo SUS 1.554 cirurgias (atrás apenas de São Paulo com 2033 cirurgias) e outras 1.148 foram feitas pelos planos de saúde, segundo a Agência Nacional de Saúde (ANS). Os números têm constante atualização. Em 2023, foram 1.884 e em 2024, 2.093 cirurgias pelo SUS.
Segundo dados do SISVAN (Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do Governo Federal), no Paraná, em 2025, com sobrepeso são 532.347 (33,9%) pessoas, 369.137 pessoas (23,48%) apresentam Obesidade Grau I, 160.290 (10,19%) têm Obesidade Grau II e 85.396 (5,43%) possuem Obesidade Grau III.
Somente em Foz do Iguaçu o índice é de 46,09%: 24,14% (2.192 pessoas) com Obesidade I; 12,47% (1.132) com Obesidade II e 9,25% (840) com Obesidade III.
A cidade realiza cerca de 300 cirurgias por ano, todas por plano de saúde, uma vez que não existe hospital que realize a cirurgia pelo SUS. Os pacientes que precisam da cirurgia pelo Sistema Único de Saúde são encaminhados para Cascavel.
Segundo a SBCBM, nos últimos cinco anos (até maio de 2025), o Brasil contabilizou 291.731 mil cirurgias bariátricas, sendo 260.380 por meio de planos de saúdee 31.3511 pelo SUS. Estes números representam apenas 1% dos brasileiros que possuem indicação para a cirurgia.
Novas regras para bariátrica
A nova Resolução Conselho Federal de Medicina (CFM) nº 2.429/2025 atualizou as normas que regulamentam a cirurgia bariátrica e metabólica no Brasil. Com essa integração, o CFM ampliou a possibilidade de tratamento, permitindo que pacientes com IMC entre 30 e 35 também possam ser submetidos ao procedimento, desde que apresentem doenças como diabetes tipo 2, doença cardiovascular, apneia do sono, doença renal crônica precoce, esteatose hepática, refluxo gastroesofágico com indicação cirúrgica, osteoartrose grave e outras 21 doenças.
Permanecem elegíveis à cirurgia os pacientes com Índice de Massa Corpórea (IMC) acima de 40, independentemente de comorbidades. A nova norma também autoriza o procedimento em adolescentes a partir dos 14 anos com obesidade grave e complicações clínicas, desde que haja avaliação multidisciplinar e consentimento dos responsáveis.
Outra mudança é a flexibilização dos critérios de idade e tempo de doença, que deixam de ser limitantes, já que nas regras anteriores, apenas pacientes entre 30 e 70 anos e com até dez anos de diagnóstico de diabetes tipo 2 poderiam se submeter à cirurgia. A resolução ainda estabelece critérios mais rigorosos para os locais de realização das cirurgias, que devem ocorrer em hospitais de grande porte, com UTI, equipe plantonista 24 horas e estrutura apta para procedimentos de alta complexidade, conforme as Portarias nº 424/2013 e nº 425/2013 do Ministério da Saúde. Nos casos de pacientes com IMC superior a 60, as cirurgias devem ser realizadas apenas em instituições com infraestrutura e equipe multidisciplinar preparadas para o manejo clínico e cirúrgico desses pacientes, considerados de maior risco.
Além do tratamento via SUS, a cirurgia bariátrica também é coberta por planos de saúde, desde que o beneficiário atenda aos critérios estabelecidos pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A ANS define que a cirurgia bariátrica, assim como outros procedimentos listados em seu rol, deve ser coberta pelos planos de saúde após um período de carência de 180 dias.
“Trabalhamos mais uma vez com toda a dedicação para que este Congresso de Cirurgia Bariátrica possa trazer para centenas de profissionais o que há de mais moderno para o tratamento da obesidade e suas comorbidades”, afirma o médico Luiz Vicente Berti, diretor de Cursos, Congressos e Certificação da SBCBM.
Dados Obesidade
A obesidade tem um avanço acelerado no Brasil: em 2010, 15% da população era obesa; em 2021, o índice chegou a 22%, e a projeção para 2025 é de 31%. Para 2044, estima-se que 48% dos adultos estarão com obesidade e 75% acima do peso, segundo dados da Fiocruz. O impacto econômico também preocupa: os custos diretos e indiretos da obesidade no país já somam US$38,7 bilhões por ano, podendo chegar a 3,8% do PIB até 2060.
Temas do Congresso
Serão três dias de Congresso e mais de 300 palestrantes do Brasil e do mundo que irão debater – em palestras, mesas-redondas e dinâmicas – inovações tecnológicas e tratamento multimodal da obesidade, que ajudam a potencializar resultados na perda de peso, melhora metabólica e prevenção da recidiva.
O Sistema Único de Saúde (SUS) será um dos grandes destaques, com uma programação dedicada a discutir o papel da rede pública no enfrentamento da obesidade, abordando desde o diagnóstico situacional do acesso à cirurgia bariátrica e metabólica até modelos de financiamento, políticas públicas de prevenção e casos de sucesso em hospitais públicos, filantrópicos e parcerias público-privadas. O objetivo é promover um debate qualificado sobre os desafios e avanços do SUS na oferta do tratamento cirúrgico e multidisciplinar da obesidade, reforçando a importância da integração entre profissionais, gestores e políticas de saúde para ampliar o acesso e melhorar os resultados.
“Foz do Iguaçu foi escolhida para sediar um encontro que vai além da atualização científica. É um espaço de troca, integração e construção conjunta de soluções para os desafios do tratamento da obesidade”, define Antônio Carlos Valezi, presidente da Comissão Organizadora do Congresso SBCBM.
Também serão apresentados trabalhos científicos sobre o tema central do congresso, além da presença de 25 palestrantes internacionais da América Latina e do Norte e Europa. Este ano o Congresso SBCBM celebra o seu Jubileu de Prata.
“O 25º Congresso da SBCBM irá celebrar um quarto de século de conquistas e avanços no tratamento da obesidade no Brasil. Em Foz do Iguaçu, reuniremos especialistas nacionais e internacionais para debater as mais recentes inovações cirúrgicas e terapêuticas, novas diretrizes e o futuro da cirurgia metabólica”, completa o Dr. Alexandre Amado Elias, presidente da Comissão Científica do Congresso.
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