O Parque das Aves, em Foz do Iguaçu, recebeu três novos indivíduos de rolinha-do-planalto (Columbina cyanopis), uma das espécies mais ameaçadas de extinção do mundo. A chegada das aves ao parque foi em abril, após elas nasceram de incubação artificial, como parte de um esforço conjunto entre o Parque das Aves, a SAVE Brasil e o Zoológico de Chester, no Reino Unido, com apoio do Zoológico de Toledo e do Zoológico do Bronx, ambos nos Estados Unidos.
“A rolinha-do-planalto é uma das espécies mais ameaçadas do mundo, com população de pouco mais de uma dezena de indivíduos adultos conhecidos no ambiente de ocorrência natural da espécie. Sua conservação depende do esforço de muitas pessoas e instituições, para que possa seguir cantando no Cerrado por muitos anos”, afirma Ben Phalan, gerente de conservação do Parque das Aves.
Incubação artificial e primeiros cuidados
Os três filhotes nasceram com o acompanhamento de especialistas em reprodução animal, em um processo que envolveu incubação artificial, alimentação especializada e manejo técnico.
A incubação foi realizada com suporte da equipe da SAVE Brasil (Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil), do Parque das Aves e do Zoológico de Chester, consolidando a cooperação internacional voltada à sobrevivência da espécie. Os animais, que não estão na trilha de visitação, ainda são jovens e só terão idade reprodutiva em 2026.
Paloma Bosso, diretora técnica do Parque das Aves, acompanhou de perto o processo e falou sobre o impacto emocional do trabalho.
“Ver esses filhotes é emocionante. Cada nascimento representa uma chance real de reverter o destino dessa espécie. É uma alegria e também uma grande responsabilidade.”
Histórico da espécie no Parque das Aves
A rolinha-do-planalto é uma espécie criticamente em perigo de extinção que antes ocorria em uma ampla área do bioma Cerrado. Atualmente, a ave é conhecida apenas em Botumirim, com uma população de pouco mais de uma dezena de indivíduos, conforme o censo mais recente, realizado neste ano.
Em 2023, foi iniciado um esforço para estabelecer uma população de segurança da espécie sob cuidados humanos, com dois ovos eclodidos com sucesso e os filhotes criados à mão e transportados para o Parque das Aves. Depois, em 2024, outro filhote se juntou a eles.
“Com a chegada desses três novos indivíduos, o Parque das Aves passa a abrigar seis rolinhas-do-planalto. Todos estão sendo cuidadosamente monitorados e fazem parte de um plano coordenado de manejo reprodutivo. A integração dos novos filhotes aos demais será feita de maneira gradual e estratégica, com foco na formação de casais reprodutores, visando uma população de segurança estável e geneticamente viável”, comenta Paloma.
Planejamento baseado em ciência
O manejo da espécie é orientado por dados científicos gerados por instituições parceiras, como o Laboratório de Genética e Evolução Molecular de Aves (LGEMA) da Universidade de São Paulo. A análise genética dos indivíduos é fundamental para orientar decisões como formação de casais, monitoramento de parentesco e diversificação da base genética da população sob cuidados humanos.
“Todo o projeto de manejo integrado envolvendo a criação dos filhotes sob cuidados humanos tem início a partir dos trabalhos de campo com a espécie. O conhecimento científico da dinâmica ecológica que rege uma determinada espécie é o fator determinante para a criação de estratégias para o sucesso de um projeto integrado. Os trabalhos em campo iniciam com o monitoramento sistemático dos indivíduos ao longo da estação reprodutiva, visando observar e interpretar comportamentos que indiquem o início da reprodução de cada casal no ambiente de ocorrência natural. Com essas informações é possível identificar em qual estágio do ciclo reprodutivo as aves estão, e a partir daí, programar os passos subsequentes para o manejo”, explica o ornitólogo Tony Bichinski.
Medidas adicionais para a proteção
Em abril de 2025, uma nova medida foi anunciada para garantir melhores condições de proteção à rolinha-do-planalto em seu ambiente de ocorrência natural. A SAVE Brasil, com apoio do Parque Estadual de Botumirim, suspendeu as visitas à Reserva Natural Rolinha-do-planalto, localizada em Minas Gerais.
A decisão foi motivada por mudanças recentes no comportamento das aves, observadas durante o censo anual, que incluem passarem a frequentar áreas de vegetação mais fechada, entre outros. Embora a observação de aves seja considerada de baixo impacto, neste momento a prioridade é o bem-estar e a redução de qualquer fator de estresse ambiental.
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Trabalho coletivo
A conservação da rolinha-do-planalto depende de um esforço articulado, envolvendo instituições brasileiras e internacionais. Entre os parceiros estão o Instituto Claravis, Instituto Grande Sertão, BirdLife International, Prefeitura Municipal de Botumirim, Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais, Durrell Wildlife, Vogelpark Marlow, Universidade de Brasília, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz e apoio financeiro da American Bird Conservancy, BirdLife International Species Champion – Bruce Peterjohn, Ministério do Meio Ambiente do Brasil e Mohamed bin Zayed Species Conservation Fund.
“As parcerias são estratégicas para o fortalecimento das ações de manejo integrado da espécie. Cada nascimento representa um avanço na construção de uma população de segurança, contribuindo diretamente para a diminuição do risco de extinção”, conclui Paloma.
Início das ações
Entre os dias 19 a 22 de agosto de 2019, o Parque das Aves sediou um workshop internacional com o objetivo de criar um plano emergencial para salvar da extinção duas espécies criticamente ameaçadas: a rolinha-do-planalto (Columbina cyanopis) e a choquinha-de-alagoas (Myrmotherula snowi).
O encontro reuniu 29 especialistas de 15 instituições nacionais e internacionais, incluindo biólogos de campo, pesquisadores, especialistas em reprodução e membros da Comissão de Sobrevivência de Espécies (CSE) da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
O evento foi conduzido por Kristin Leus e Kathy Traylor-Holzer, do Grupo de Especialistas em Planejamento para a Conservação da UICN, e marcou um passo estratégico na construção de diretrizes para o manejo conjunto e colaborativo das duas espécies.
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