Eliseu Auth
Nunca imaginei ver a cena que vi no dia 12 de outubro, lá no Santuário de Nossa Senhora Aparecida. Tenho certeza que as pessoas que têm a fé como luz no caminho da vida, ficaram estarrecidas e tristes com a tentativa de politizar aquele evento religioso. Alguns fanáticos, copo de cerveja na mão, causaram tumulto e chingaram de “comunista”, o arcebispo Dom Orlando Brandes ao fazer a homilia da missa principal. Eles se incomodaram porque o religioso pediu aos fiéis que combatessem o ódio, o desemprego e a fome. Desde Puebla, a Igreja faz opção pelos pobres. É comunista quem socorre os pobres? Então, que disse de errado, o arcebispo de Aparecida? Nada! Tudo o que falou, está na doutrina cristã. Cristão de verdade, não vaia a Doutrina.
Veja também
- Polícia Militar em Foz inicia operação contra crimes na fronteira
- Preparação das urnas de Foz ao segundo turno será no domingo e segunda, 23 e 24
Me preocupa muito esse desrespeito de extremistas. Atacam instituições democráticas como Tribunais e Juízes que cumprem seu dever de aplicar as leis. Desconhecem que nosso sistema é de jurisdição única e todos os atos administrativos estão sujeitos à interpretação do Supremo. Agora, já não se contentam em vulgarizar e atacar as Instituições civis e democráticas. Como se fossem senhores do céu e da terra, já satanizam princípios que são sagrados para a doutrina cristã que está nos Evangelhos. Leiam! Lá está, como cláusula religiosa pétrea, o amor ao próximo e a inclusão dos pobres e desvalidos no mundo da dignidade. Não foi isso que o doce Nazareno fez o tempo todo, quando andou pela Galiléia, Samaria, judéia e Arimatéia? Faz mal para vocês que os pobres também comam? Pregar que a fome avilta as pessoas? Por acaso, vocês são raça superior? Só vocês podem ter acesso às riquezas do país? Se foram ao Santuário da Padroeira do Brasil, lugar sagrado de fé e oração, para quê foram? Para vaiar quem pregou que somos iguais perante Deus? Ou foi para cabalar votos e apoiar o candidato presente?
Isso a ira de Cícero, nas Catilinárias, bradando: “In qua urbe sumus?” Em que cidade estamos? Também o desabafo de Castro Alves no poema “Navio Negreiro”. Ao ver a bandeira brasileira no mastro da embarcação que trazia os negros escravizados, exclamou que era infâmia demais. Invocou , da etérea plaga, a insurgência dos heróis do Novo Mundo e pediu a Colombo que fechasse a porta dos seus mares. Com igual indignação, encerro pedindo à Mãe de Deus, Nossa Senhora Aparecida, perdão pelo vexame extremista.
(Eliseu Auth é promotor de justiça inativo, atualmente advogado).