O estudo aponta que a Petrobras poderia oferecer um valor mais barato se a política da empresa não associasse o preço balizado no preço internacional
Preço de combustíveis sempre é um tema sensível, porque dói no bolso de muitos cidadãos que usam seus veículos para locomoção própria ou transporte coletivo. E também mexe com a economia de forma global, visto que grande parte da logística da cadeia de abastecimento de entrega de mercadorias em todo o território nacional é bastante impactada pela variação de preço desses recursos energéticos.
E no meio disso surgem algumas perguntas: por que os preços mudam tanto? E são os impostos os reais vilões dessa questão? Foi pensando nisso que o Grupo de Pesquisa em Mobilidade e Matriz Energética da Universidade Federal da Intragração Latino-Americana (UNILA) se empreendeu na tarefa de desenvolver um código computacional para cálculo de formação de preço de combustível.
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O estudo aponta que a Petrobras poderia oferecer um valor mais barato se a política da empresa não associasse o preço balizando nos praticados pelo mercado internacional.
O código computacional elaborado pelo grupo de pesquisa da UNILA tem a função de fazer o cálculo de formação de preços de óleo diesel no Brasil, a partir da avaliação dos históricos da política de Preço da Paridade Internacional (PPI) no sobrepreço praticado e leva também em consideração a inflação no país nos últimos anos.
O professor Ricardo Hartmann, do curso de Engenharia de Energia, contextualiza que as refinarias brasileiras têm condições de produzir toda gasolina e óleo diesel necessários para consumo interno, mas com a adoção da política do PPI a partir de 2016, estabeleceu-se a dolarização dos preços dos combustíveis
Preços mais acessíveis
“Nós produzimos todo o petróleo, temos um preço de custo variando entre R$ 1 e R$ 1,1 para cada litro de gasolina ou de diesel, mas o consumidor brasileiro paga como se os recursos naturais fossem importados. Ou seja, produzimos tudo com preço de custo baixo e pagamos o preço internacional, e por isso os preços desses insumos ficaram caros nos últimos cinco a seis anos”, diz Hartmann.
O grupo de pesquisa começou a analisar alguns outros modelos de formação de preços e os pesquisadores afirmam que o modelo que está sendo proposto fornece preço mais acessível ao consumidor, de forma a garantir a blindagem das oscilações internacionais e a manter a lucratividade e competitividade da Petrobras. O estudo analisa aspectos de correlações qualitativas entre o preço do óleo diesel e a taxa de inflação.
A pesquisa propõe um modelo computacional em linguagem Python, desenvolvido a partir do modelo da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET), que foi chamado de Preço Justo e Competitivo (PJC). “A AEPET propôs o algorítmico em 2019 e nós fizemos uma adaptação e construímos um código computacional. O que fizemos foi uma melhoria no algoritmo e escrevemos uma linguagem computacional pra ele”, explica Hartmann. O resultado pode ser acessível a todos que tenham interesse de entender melhor sobre o assunto.
Ricardo diz que com a aplicação do novo modelo de cálculo de formação de preço, seria possível reverter o valor do diesel a R$ 3 por litro para o consumidor brasileiro. A gasolina, segundo ele, ficaria num preço semelhante, porém tem um diferencial em relação aos impostos, visto que em junho do ano passado, antes das eleições, houve mudanças na aplicação do ICMS – que representa recursos para o estado – e a gasolina ficou um pouco mais barata que o diesel devido a essa mudança na tributação, mas não houve alteração em relação ao PPI, que é considerado o principal vilão.
“Os postos de combustíveis não fazem a comparação do preço de paridade e importação. Então eles dão a impressão de que a culpa é dos impostos, enquanto na verdade é do parâmetro internacional”, aponta ele. E expectativa dele é que a Petrobras faça mudanças no Conselho da estatal para que a política do PPI deixe de ser usada e passe a baratear os combustíveis. O Grupo de Pesquisa se coloca à disposição para discutir esse novo modelo, a fim de que possa ser alterada a atual política de preços. “Colocamos, no estudo, uma lucratividade média da empresa em torno de 9%, que é a média das empresas internacionais de petróleo. A proposta apresentada é manter a lucratividade e diminuir bastante o preço praticado ao consumidor”, defende.
Saiba mais sobre a pesquisa acessando os documentos em anexo:
- Texto do Modelo proposto pelo Grupo de Pesquisa em Mobilidade e Matriz Energética
- Preço da Paridade Internacional (PPI)
- Código Computacional AEPET/UNILA
- Histórico dos preços do petróleo