Planalto tem na Selic o freio que empurra o Brasil para trás

É hora de parar de tratar o juro como solução mágica

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Por João Zisman

A decisão do Banco Central de aumentar novamente a taxa Selic deveria causar mais indignação do que provoca. Infelizmente, naturalizamos o absurdo. Mesmo diante de uma população sufocada pelos preços da comida, do aluguel e do gás, segue-se apostando na mesma receita dos juros altos, como se fosse o único caminho possível.

Para quem não acompanha o noticiário econômico, vale explicar: a Selic é a taxa básica de juros do país. Quando o Banco Central decide elevá-la, todo o crédito encarece. Em outras palavras, fica mais difícil financiar um carro, abrir um pequeno negócio ou comprar uma casa. As empresas pisam no freio, demitem, e o consumo das famílias encolhe. A promessa é que, assim, os preços parem de subir. Mas isso não tem acontecido. O que temos visto é exatamente o contrário.

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Os alimentos continuam caros, a cesta básica pesa no bolso, o gás de cozinha bate recordes silenciosos e os aluguéis sufocam as famílias urbanas. Ou seja, há carestia, mas os juros altos não resolvem esse problema. Resolveriam se o que estivesse em jogo fosse um consumo desenfreado, mas não é isso que está acontecendo. O povo não está comprando demais, está sobrevivendo com dificuldade. A inflação que existe é teimosa porque está ligada a fatores que os juros não alcançam, como desequilíbrios logísticos, choques externos e margem de lucro exagerada em alguns setores.

Mesmo assim, o Banco Central insiste em castigar o Brasil que trabalha e produzir riqueza. Quem ganha com isso? Os mesmos de sempre. Aqueles que vivem de aplicar dinheiro em títulos públicos, que lucram com os juros altos e que não geram um único emprego. É a elite do rentismo, que observa à distância o país real se debatendo, enquanto lucra com a paralisia da economia.

A tal “autonomia” do Banco Central, em tese uma medida para proteger decisões técnicas de pressões políticas, na prática se transformou em uma bolha. Um espaço blindado à realidade, onde se decide com base em planilhas frias e descoladas da vida concreta de quem acorda cedo, pega ônibus lotado e volta para casa com sacolas cada vez mais vazias.

Não se trata de defender aventuras nem de atacar instituições. Trata-se de denunciar um modelo que pune o Brasil errado. A Selic alta por tempo demais é um freio desnecessário na economia e um golpe direto na esperança de retomada do crescimento.

É hora de parar de tratar o juro como solução mágica. O Brasil precisa de investimento, crédito acessível e políticas que olhem para o prato vazio do povo, não apenas para o sorriso satisfeito dos que lucram com a estagnação.

* João Zisman é jornalista e secretário de Comunicação Social da Prefeitura de Foz do Iguaçu.

@fozdiario


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