Estudantes do curso de Ciências da Natureza integram parte deste estudo, ao lado de outras instituições do Brasil e de Portugal
Os desafios de pensar a ciência como atividade presente no cotidiano das pessoas é grande e se torna ainda maior na prática educativa. E cada vez mais é preciso buscar novas metodologias para incentivar que docentes em formação consigam despertar a curiosidade sobre a ciência nos adolescentes, no desenvolvimento de suas atividades de ensino.
Com esse propósito o projeto de pesquisa “Ensino por investigação: ênfase em saúde” vem sendo trabalhado por três instituições, incluindo a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), tendo em vista que os pesquisadores envolvidos perceberam frequentes dificuldades apresentadas pelos novos docentes para desenvolver atividades de investigação.
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Na UNILA, o projeto conta com a participação do professor Ronaldo Ribeiro da Silva, do curso de licenciatura em Ciências da Natureza. Junto com as professoras Andreia Zompero (coordenadora) e Tania Klein, da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e a professora Isilda Rodriguesa, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), de Portugal, a proposta busca analisar o impacto da formação no desempenho dos estudantes de Ciências Biológicas e de Ciências da Natureza nas três instituições, ao desenvolverem atividades investigativas durante o estágio supervisionado realizado nas escolas com os alunos de educação básica.
O projeto ainda está em desenvolvimento e é realizado em diversas etapas. Inicialmente, os pesquisadores analisaram como a proposta investigativa é abordada nos currículos do curso de Ciências Biológicas ou de Ciências da Natureza das duas universidades do Brasil envolvidas no estudo e também de Portugal. E após analisar os desafios encontrados pelos licenciandos, o projeto segue propondo encaminhamentos para a formação desses futuros docentes, no intuito de superar as dificuldades encontradas para realização das práticas investigativas.
“Analisamos as matrizes curriculares das três universidades. A proposta era verificar, em relação aos cursos de formação de professores, a existência de alguma ementa ou objetivo geral que remetesse à questão da investigação em si, do ensino por investigação”, diz Ronaldo. A partir daí, a equipe começou a desenhar um curso de formação, partindo inicialmente de uma parte teórica com revisão de estratégias metodológicas diversificadas, principalmente de como funciona o ensino por investigação no exterior e no Brasil.
O pesquisador exemplifica atividades práticas que eram propostas aos estudantes universitários: situações como a história de uma onça-pintada encontrada morta, textos sobre história da ciência e de febre puerperal, o uso de solo adequado para um agricultor fazer plantação, o processo de osmose com folha de alface. “O tempo todo a gente não dá reposta. A gente quer que os estudantes envolvidos observem e retirem os elementos investigativos. Muitas vezes os professores de Ciências e de Biologia acreditam que para desenvolver uma investigação é preciso de laboratório. Na verdade, a gente quis mostrar para esses alunos em processo de formação que há muitas possibilidades de desenvolver o ensino por investigação por meio de estratégias metodológicas diferenciadas”, comenta ele.
Investigação com ênfase na saúde
O segundo momento, de acordo com Ronaldo, foi de produção. Então os estudantes dos dois países tiveram que produzir, em dupla ou em grupos, a escrita de um texto em que a temática do projeto se referia à área da saúde. E ele explica o que era esperado para essa atividade: “Para ocorrer o ensino por investigação, o elemento principal é ter um elemento da realidade local”. Durante essa tarefa, os alunos de Ciências da Natureza, da UNILA, desenvolveram textos diversificados em que aplicaram elementos investigativos como levantamento de hipóteses, formação de problemas e coleta de dados. Realizada essa etapa no formato de oficinas, eles foram colocar em prática o aprendizado em sete escolas de Foz do Iguaçu, onde os estudantes faziam estágios supervisionados nas disciplinas de Ciências e Biologia.
UPara Ronaldo, o resultado em todas as instituições que estão envolvidas na pesquisa tem sido muito positivo. “O envolvimento é geral por parte dos estudantes e superou as expectativas de todos por se tratar de um curso também com atividades práticas e não só teoria. Possibilitou a eles vivenciar o processo de investigação”, conta ele. E já adianta que todas as atividades serão registradas no formato de e-book, o que permitirá o acesso a mais pessoas interessadas na metodologia de ensino por investigação. “É uma metodologia muito interessante e dá para fazer muita coisa, não só em Biologia ou Ciências, mas em outras disciplinas também. Tem vários contextos locais que dá para você pensar em outras possibilidades, mesmo que não haja laboratório. Dentro da realidade da escola pública, é importante ter esse olhar diferenciado para o ensino de Ciência e Biologia”, defende.
Alunos do curso de Ciências da Natureza que estão no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) poderão desenvolver atividades em duas escolas locais: o Colégio Estadual Gustavo Dobrandino da Silva e Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adolescentes e Adultos (CEEBJA), onde poderão fazer apresentação de uma estratégia metodológica que contemple o ensino por investigação. “Nossa intenção é que a proposta não só fique restrita apenas para os alunos que estão participando do estágio. É possível transformar em projeto de extensão para que possamos levar para outras escolas e em outros níveis de ensino em Foz do Iguaçu”, anuncia o docente.