Quem se importa com as mulheres?

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A absolvição do Coronel Médico “Dr Bacana”, da PMPR, é mais um triste capítulo de uma história de violência e impunidade contra a mulher, neste caso específico, contra dezenas de mulheres.

Por: Requião Filho

O aumento expressivo no número de casos de feminicídio, abuso, assédio e agressões contra as mulheres está longe de desacelerar. Seja dentro de casa, na vizinhança, no trabalho e até dentro das corporações, muitos desalmados insistem em se achar superiores e no direito de torturar suas companheiras, inclusive colegas de trabalho. O caso mais recente que revoltou o Paraná foi a absolvição de um réu que respondia por atentado violento ao pudor e assédio sexual contra mais de 40 vítimas.

O tenente-coronel da Polícia Militar (PM) do Paraná e médico Fernando Dias Lima, conhecido como “Doutor Bacana”, foi absolvido pelo Conselho Especial de Justiça Militar – detalhe, todos juízes homens – das denúncias de atentado violento ao pudor e de pelo menos sete casos de assédio sexual contra policiais femininas. Uma corporação que possui o dever constitucional de proteger todos os brasileiros, sejam eles do gênero que bem escolherem, demonstrou que nem sempre respeita o que prega… pelo menos, internamente.

Há anos recebemos em nosso gabinete esta denúncia, envolvemos todos os setores responsáveis à época. Insistimos para que a PMPR adotasse medidas de proteção às policiais femininas, com urgência. Agora tomamos conhecimento, via imprensa, da absolvição do referido Cel. Médico, acusado de abuso por dezenas de mulheres.

Como o processo corre em total segredo, a alegação que nos chega é de falha processual, de que o Ministério Público teria errado quando da propositura da denúncia. Se tal fato é real, não retira, em nenhum momento os atos cometidos, a impunidade reinante e o sentimento de humilhação que todas as vítimas passaram. Por isso, é importante que se recorra imediatamente desse resultado catastrófico, que além de não proteger as mulheres perpetua a impunidade de agentes agressores.

Pergunto onde está o Comando da Polícia Militar neste momento, que mesmo reiteradamente avisados deixaram acontecer tantos abusos dentro de suas repartições? Como protegem abusadores e deixam nossas valentes policiais em mãos de agressores contumazes?

Seguirei cobrando a proteção das Policiais Femininas e continuarei ao lado daqueles que o Estado deixa de conferir a devida dignidade. Às bravas PMFs paranaenses todo o meu respeito, apoio e admiração. Não se calem!

Infelizmente, a impressão que dá é que, a cada dia, damos mais um passo rumo a Idade Média, a Idade das Trevas, na qual mulheres eram queimadas vivas por não atenderem aos desejos dos poderosos, por não viverem da forma determinada pela igreja, por tentarem dar um passo além dos duros limites traçados pelos homens.

Hoje as mulheres são agredidas em frente aos próprios filhos, como o caso do DJ Ivis, de repercussão nacional, que sem nenhum pudor agride sua companheira e ainda vem a público se fazer de vítima. Estamos presenciando cenas maquiavélicas, onde mulheres são alvejadas em plena luz do dia, por ex-maridos enfurecidos e enciumados com suas novas escolhas de vida. Ou ainda, que torturam psicologicamente suas companheiras, aprisionando-as dentro de uma redoma de mutilação e sofrimento, em cárcere privado em pleno século XXI.

Agora, a absolvição do “Dr. Bacana” mancha a história da PMPR, com um capítulo de horror vivido por dezenas de mulheres e que terminará, por ora, com a vitória da impunidade. O Deputado Estadual Cel. Lee, à época Comandante Regional de Cascavel, foi encarregado do inquérito, ele ouviu mais 40 vítimas e concluiu seus trabalhos apontando fortes indícios de autoria e materialidade da prática de crime. Inclusive, naquela ocasião, chegou a efetuar pessoalmente a prisão do “Dr. Bacana”.

Espero, sinceramente, que o Brasil consiga, um dia, proteger aquelas que tanto fazem para o país. E que elas nunca se calem, diante de tamanhas barbáries sofridas, nem sintam-se diminuídas pela vergonha ou jogo psicológico que as queiram fazer passar. Crime é crime e não pode ser tratado como algo menor ou impune!

As informações são de Requião Filho.

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