As autoridades sanitárias paraguaias vêm afirmando que 86,7% dos diagnósticos do coronavírus têm origem brasileira. Até o presidente paraguaio Mario Abdo Benitez afirmou à agência EFE que o Brasil é “uma grande ameaça” à saúde dos paraguaios.
Trata-se de meias verdades que precisamos enfrentar, e para alguns ainda são falácias e uso político da pandemia mundial. Pelo menos não é a realidade da fronteira entre as cidades de Foz do Iguaçu e Ciudad del Este, que desde sempre coexistem em todos seus problemas e soluções.
Comumente, são os paraguaios que cruzam a Ponte da Amizade na busca de atendimento médico-hospitalar no lado brasileiro, o que historicamente sempre impactou nas despesas e custos do sistema público de saúde local. Não se tem estatísticas precisas e estima-se que dezenas de paraguaios são atendidos cotidianamente em UPAs, postos de saúde e hospitais. Tudo pelo SUS e de forma gratuita.
Há também o famoso “jeitinho paraguaio” que usa endereço da cidade brasileira no preenchimento dos cartões do SUS (Sistema Único de Saúde) para ser atendido nas unidades de saúde (os brasileiros usam este subterfúgio por lá quando necessitam de algo). Novamente, estima-se quase o dobro de cartões em relação aos 250 mil moradores de Foz do Iguaçu.
Portanto, há uma grande demanda reprimida de paraguaios que aguardam a reabertura da fronteira para buscar atendimento no Brasil. Só falta liberar o trânsito na Ponte da Amizade, bloqueada por ordem do próprio presidente Benitez.
Estrutura – Sem os paraguaios, as autoridades sanitárias brasileiras montaram uma estrutura adequada – ampliação de leitos de enfermaria e de UTI, testes e diagnósticos rápidos e medidas restritivas. Não é realidade em Ciudad del Este e nem nas cidades conurbadas de Presidente Franco e Hernandarias.
Até por ter uma estrutura precária de saúde, o Paraguai adotou todos os rígidos protocolos sanitários para evitar a propagação do coronavírus em seu território. E chegou a ser elogiado pela Organização Mundial da Saúde por ter uma postura considerada exemplar no enfrentamento à pandemia.
O resultado parece que alcançou até este momento os resultados esperados, mas o custo da economia local é alto e a flexibilização do lado brasileiro atrai as atenções, exigindo de Marito, como é conhecido o presidente paraguaio, a condescendência com os seus cidadãos e usando o medo midiático do “Brasil bicho papão”, como escora de sua política titubeante.
Porém, se ao mesmo tempo, o controle impediu que os paraguaios voltassem para casa, as cenas de paraguaios barrados na fronteira, em plena Ponte da Amizade, têm sido recorrentes. Muitas vezes, o único conforto deles vem do apoio e solidariedade dos brasileiros.
Uso político – O que pouco se discute é o uso político da situação pandêmica. Semanas antes de decretar o fechamento das fronteiras, impondo uma rigorosa quarentena, o presidente Marito Benitez, enfrentava uma forte onda de protestos. Seu mandato chegou a ficar por um fio. A pandemia deu sobrevida ao presidente paraguaio.
Sem estrutura básica mínima de saúde para atender a população, a propagação do vírus, de forma mais intensa, causaria um grande colapso na saúde pública daquele país. Normalmente, volta-se a dizer, os paraguaios que moram na fronteira sempre buscaram atendimento médico no lado brasileiro. Com o coronavírus, há uma grande demanda reprimida dos vizinhos aguardando a liberação das aduanas para voltar a buscar assistência médica no Brasil.
Hoje, todos os esforços nos lados brasileiro e paraguaio estão concentrados em superar a pandemia. Mas, as assimetrias no acesso à saúde nos dois lados da fronteira sempre foram um problema sério, com impacto direto no Brasil.
É fato que não se pode deixar os paraguaios ao relento na Ponte da Amizade. Crianças, mulheres e famílias inteiras debaixo de sol e chuva, sofrendo com o frio de outono. O trabalho humanitário dos voluntários que levam comida e banho é essencial, mas essa realidade não é por insensibilidade do governo brasileiro.
Trata-se de um problema do governo de Marito, no qual o consulado do Paraguai em Foz do Iguaçu deveria arcar com os custos de alojamentos a seus concidadãos até a fronteira ser aberta. Uma incompetência internacional do governo paraguaio!
Voluntários – Detalhe: que veio paraguaio infectado da capital paulista, isso é mais que um fato, pois é o problema recorrente do Brasil com o epicentro da pandemia em São Paulo. O mais provável que tenha acontecido é de que um passou o vírus para muitos outros por terem ficado amontoados na Ponte da Amizade, numa longa espera.
É isso que fez os casos de covid-19 explodirem nos últimos dias, também no Paraguai. Foi por descaso do governo dos “varados” na Ponte da Amizade, como os paraguaios dizem.
É claro que o Brasil e o Paraguai não podem abrir a fronteira. É prova de que os dois países pouco se preocuparam em ações como o combate à dengue, zika, chikungunya, febre amarela, vacinações e agora coronavírus.
Agora não deixam passar seus compatriotas, muito mais por não ter condições de atender os paraguaios doentes lado a lado. Manter a ponte fechada é evitar neste momento o flagelo da saúde pública de Foz do Iguaçu e toda a fronteira com o Paraguai.
Resgatar e alojar decentemente seus compatriotas com dinheiro paraguaio é responsabilidade de Mario Abdo Benitez, presidente do Paraguai.