Refúgio Biológico de Itaipu recebe pesquisa internacional inédita sobre inseminação artificial em harpias. Veja fotos!

WhatsApp
Facebook

Resultado do estudo poderá mudar a perspectiva de conservação da espécie em cativeiro e também na natureza. Espaço abriga o maior plantel de harpias em cativeiro

O Refúgio Biológico Bela Vista da Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu (PR), foi escolhido para sediar uma pesquisa internacional inédita sobre a criopreservação de sêmen e reprodução assistida de harpias (Harpia harpyja) por meio de inseminação artificial. O resultado poderá mudar completamente a perspectiva de conservação da espécie em cativeiro e também na natureza.

O responsável pela pesquisa é o médico veterinário Dominik Fischer, professor da Universidade Justus Liebig Giessen e também parceiro de projetos no Zoológico de Nuremberg, ambas as instituições localizadas na Alemanha. Fischer chegou ao Brasil no dia 13 de novembro e fica até o próximo sábado (14).

O Refúgio foi escolhido por abrigar o maior plantel de harpias em cativeiro do planeta. “Além dos espécimes, encontrei aqui a infraestrutura ideal para desenvolver o trabalho, desde equipamentos até espaço e, também, o apoio da equipe”, disse o pesquisador.

O projeto consiste basicamente de coleta, análise, diluição e preparação do sêmen, tanto para refrigeração como para criopreservação. Os resultados foram satisfatórios até o momento – das 12 harpias machos sexualmente maduras submetidas à coleta, dez apresentaram sêmen.

Foi feita, também, a inseminação de uma fêmea que estava em período fértil. No dia 9 de dezembro, ela fez a postura de um ovo que pode estar fertilizado com o sêmen do macho doador. O próximo passo é aguardar o resultado da incubação e, se houver o nascimento de filhote, serão realizados testes genéticos de paternidade para saber se a inseminação artificial teve sucesso.

Um exemplo prático do uso dessas técnicas de reprodução assistida é a facilidade na troca de material genético entre populações, sem que seja necessário transportar animais de uma região para outra.

“Também será possível escolher os melhores espécimes para a reprodução”, completou o biólogo Marcos José de Oliveira, da Divisão de Áreas Protegidas da Itaipu e mestre em Zoologia pela UFPR com uma pesquisa sobre o manejo reprodutivo de harpia em cativeiro.

A manutenção da biodiversidade regional, uma das preocupações do Refúgio Biológico, faz parte da missão ampliada da Itaipu. A diversidade natural de espécies presta importante serviço ecossistêmico, o que repercute na conservação das áreas protegidas, na qualidade da água e, no caso da Itaipu, na longevidade do reservatório.

Processo
Técnicas de coleta de sêmen e inseminação artificial são utilizadas há décadas em avicultura comercial, mas só recentemente estão sendo empregadas na recuperação de espécies ameaçadas de extinção, em todo o mundo.

As tratativas para a pesquisa envolvendo as harpias iniciaram-se em outubro de 2018, durante o “I Workshop do Programa Ex Situ do Projeto Harpia”, realizado em Foz do Iguaçu e apoiado pela Itaipu Binacional.

Para realizar as coletas, os animais foram manejados e levados para o hospital veterinário. Por medida de segurança, as aves foram preparadas anteriormente, o que incluiu a proteção das garras com bandagem elástica e a colocação de um capuz para obstruir a visão, minimizar o estresse e ajudá-las a manter a calma.

Duas técnicas são utilizadas para a coleta de sêmen. A primeira consiste na massagem abdominal, e a segunda na eletroestimulação cloacal. O conteúdo seminal é então levado ao microscópio para análise. Por fim, é feita a contagem de células e avaliado o tempo de vida dos espermatozoides.

Especialista
Dominik Fischer é especialista em reprodução de aves, já tendo realizado coleta de sêmen em mais de 100 espécies. Já participou de projetos de inseminação artificial em várias espécies ameaçadas de extinção, entre elas a ararinha-azul (Cyanopistta spixii), que está em grau máximo de ameaça no Nordeste brasileiro.

Formado pela Universidade de Medicina Veterinária de Hannover, Alemanha, ele trabalha como veterinário no Centro de Aves de Rapina e no Zoológico de Vida Selvagem de Hellenthal, na Alemanha, que pertence a sua família. “As harpias são animais fascinantes. Desde que as vi num livro, quando era pequeno, fiquei encantado com seu poder, sua força”, contou.

Fischer também atua como pesquisador na Clínica de Aves, Répteis, Anfíbios e Peixes da Universidade Justus Liebig Giessen, Alemanha. Em Giessen, ele completou um programa de pós-graduação de três anos (Giessen Graduate School of the Life Sciences) e sua tese de doutorado (Dr. med. Vet.) sobre aspergilose em falcões.

Dominik é atualmente presidente da Associação Europeia de Veterinários de Aves (EAAV) e membro de várias associações sobre fauna, zoologia e medicina de animais exóticos.

Fotos: Rubens Fraulini

Mais notícias

.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *