Condições climáticas desfavoráveis e desgaste natural das araucárias reflete em menor produção de sementes. Quilo está cotado a R$ 18 no mercado. Especialistas descartam risco de extinção das árvores
O agricultor Gelson Pappen, 49, de Boqueirão do Leão lamenta mais uma safra com menor oferta da semente. Fatores climáticos e árvores antigas são apontados como responsáveis pela queda consecutiva nos últimos cinco anos.
“As araucárias novas produzem média de 15 pinhas. As velhas apenas 5. Tenho uma área com 300 árvores e até o momento colhi cerca de 150 quilos”, calcula.
A maioria da semente é consumida pela família. O excedente é vendido na internet ao valor de R$ 8 o quilo, cerca de 30% mais caro em relação a 2019. A realidade de Pappen é comum no Estado.
Segundo a Emater, a colheita registra uma quebra que varia de 20% a 60% com relação ao ano passado, dependendo do município. “Essa redução foi influenciada por condições climáticas desfavoráveis, em especial, o clima seco no período de desenvolvimento do pinhão”, explica a engenheira florestal Adelaide Juvena Kegler Ramos, assessora técnica da Emater em Manejo de Recursos Naturais.
A venda tradicionalmente ocorre na beira das rodovias aqui na região. No entanto, a oferta está muito escassa e o preço registra alta – até R$ 18 o quilo. Em Fontoura Xavier, a Terra do Pinhão, em cada uma das 17 tendas a média vendida por ciclo, entre abril e agosto, é de 3 mil quilos. “Vai reduzir para 500 quilos. Cada árvore produzia 30 quilos da semente e este ano não chega a dois”, relata a presidente da Associação dos tendeiros Maria Izabel.
Desgaste natural
A tradicional iguaria do inverno está mais cara. Para Ilvandro Barreto de Melo, engenheiro agrônomo a baixa oferta é reflexo das chuvas contínuas no período de polinização em 2018 e a estiagem que se prolongou entre 2019 e 2020, estágio crítico no desenvolvimento do fruto (pinha) e da semente (pinhão).
“O ciclo de produção leva dois anos. Aliado a isso temos o desgaste natural das árvores, por ser uma atividade extrativista, onde não ocorre a reposição nutricional”, explica.
Frase destaque
O ciclo de produção leva dois anos. Aliado a isso temos o desgaste natural pela produção sucessiva.
Ilvandro Barreto de Melo, engenheiro agrônomo
Risco de extinção
Para Melo, desde que não ocorra uma catástrofe planetária, praticamente não há possibilidades da árvore ser extinta. Houve uma redução significativa da área original, mas agora estabilizou em função da legislação protetiva e punitiva, observa. Sugere criar projetos para ampliar as áreas e gerar mais renda aos produtores. A média histórica de produção, por safra no Rio Grande do Sul, gira em torno de 900 toneladas de pinhão. Já a área cultivada chega a 362 mil hectares (1,35% do território gaúcho).
Por: Jornal a hora
Fotos: Eduardo Matysiak