“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina” – (Cora Coralina)
Gilmar Cardoso
Neste dia 15 de outubro comemoramos o Dia do Professor. Esta data foi determinada pelo decreto federal 52.692, de 1963, assinado pelo Presidente João Goulart e recorda-nos que em 1827, na mesma data (dia consagrado à educadora Santa Teresa de Ávila), no período do Primeiro Reinado, o ensino elementar no Brasil foi instituído pelo Imperador Dom Pedro I.
Você já parou para pensar como seria o mundo sem professores? Essa nobre profissão compartilha conhecimento e é tão essencial para a sociedade e, inclusive, tenho comigo que depois da missão sublime de ser mãe, a mais magnífica atividade servidora recaia sobre eles, os educadores.
O papel do professor vai muito além de uma profissão e da sala de aula. Assumir turmas de alunos é um desafio. Isso não se restringe somente ao ambiente quadrado, onde muitos imaginam que a função é somente naquele espaço da sala de aula; pois, na verdade o professor precisa conhecer a vida, contexto e diagnóstico do aluno; além de interagir família e sociedade, ensinar e resolver problemas.
Há muito tempo repercute a informação real sobre a desvalorização dos profissionais de educação, todos somos sabedores, inclusive os próprios mestres; mas, eles compreendem que educar é um ato de generosidade, que começa nas séries iniciais e prossegue aos pós-docs universitários. Entra ano, sai não, entra governo e sai governo, e a situação financeira não se altera. Por isso, não é difícil deduzir que nesse 15 de outubro, não há muito o que celebrar, nesse sentido.
Em tempo sombrio contemporâneo e marcado por uma alienação galopante, é bom que saibamos que em cada palmo de chão deste Brasil, lá está um professor. Mesmo que desprezado, não valorizado, estigmatizado, perseguido e servindo de bode expiatório para toda gama de mazelas de nossa história, o que não é algo novo, a onipresença do professor é a arma do conhecimento apontando que a sua existência é indispensável. O professor conhece cada drama, cada riso e cada lágrima do seu aluno. A tristeza e alegria de cada jovem, pobre ou rico, do campo ou da cidade.
Por isso que o antropólogo e educador Darcy Ribeiro cunhou uma célebre expressão afirmativa de que a crise da educação brasileira não é uma crise, é um projeto. Não sem razão o teólogo Rubem Alves, autor dentre outras da memorável frase de que há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas, legou-nos a lição de que ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais; disse.
A pedagoga Aucimara Souza do Nascimento, por sua vez, avalia que ser professor é, antes de tudo, gostar de gente. É se importar com a história de vida das crianças e olhar verdadeiramente nos olhos de cada uma delas. O poeta baiano Erasmo Shallkytton reproduz que a maior glória de um professor é sentir que os seus alunos tornaram-se grandes homens e mulheres. Enfim, a escola é um verdadeiro laboratório, onde o professor pode produzir e transferir o aprendizado das experiências aplicadas, testadas e aprovadas. Isso diferencia, impulsiona e valoriza o profissional.
Quem compartilha conhecimento muda a história de quem aprende. O magistério e a docência sempre foram e continuam sendo inquestionáveis, verdadeiros pilares da educação. A despeito de estarem separados do ambiente escolar, da ação educativa presencial junto dos alunos, vocês não se acomodaram e não se restringiram ao espaço físico, sempre vital com a movimentação dos estudantes. Mas ultrapassaram os limites institucionais, as paredes e os muros escolares e viabilizaram as aulas e atividades remotas com muita inovação, criatividade, entusiasmo e entrega. Fazendo lembrar Cora Coralina, para quem o saber se aprende com mestres e livros, mas a sabedoria é com o corriqueiro e com a vida.
Estamos diante de um cenário difícil e novo para todos. Os efeitos da propagação do vírus e a evolução da vacinação protetiva continuam a impactar a humanidade. Definitivamente, já não somos e nem seremos mais os mesmos. Também na área da educação, a missão e a atuação do professor, a gestão escolar e o perfil do estudante já estão sendo transformados e ressignificados. Na maioria das situações, tem sido até edificante ver os professores vencerem os desafios e reinventarem a educação, o ensino, a aprendizagem e a própria escola em si.
Aos nossos queridos educadores, a palavra amiga nesta data especial, onde mais do que mera convenção social, neste contexto de calamidade pública e emergência em saúde, reveste-se de uma excelente ocasião para homenageá-los e expressar publicamente nossa coletiva gratidão, admiração, respeito, valorização pela dedicação e esforço ímpares pelo desenvolvimento das atividades escolares remotas e híbridas, pela capacidade der manterem em alta a motivação dos nossos estudantes e acreditarem num outro mundo possível, num futuro melhor. Sem professores, não há educação verdadeira. Estejam seguros de que os problemas da humanidade e os desafios do futuro sempre desafiaram e continuam a calar fundo no ser e no fazer dos educadores
Com o advento da pandemia, de uma hora para outra, eles ficaram distantes das salas de aulas e dos alunos e, sentiram na pele que estes precisavam deles, das orientações, da presença e mentoria. Enquanto em muitos lugares do país, professores corriam para aprender a fazer lives, preparar arquivos para downloads e outros recursos da era tecnológica; outros ainda preparavam material didático e tarefas para serem encaminhadas às casas dos alunos, ainda que evitando o contato físico, mas com braços enormes de atenção e carinho para que se sentissem abrigados. Esse comportamento, em busca da adaptação à nova realidade, constituiu-se em uma verdadeira reinvenção da profissão. Essa nova pedagogia tem o professor como incentivador e orientador da aprendizagem, proporcionando aos alunos a iniciativa e autonomia na construção de conhecimento e consolidação da aprendizagem.
Neste momento, já que falamos em missão e propósito, deixo minha homenagem à paquistanesa Malala Yousafzai, que, em 2012, aos 14 anos foi baleada por defender a Educação para mulheres em seu país e no mundo. Depois, foi a pessoa mais nova a ser laureada pelo Nobel da Paz “pela sua luta contra a supressão das crianças e jovens e pelo direito de todos à educação”. Muitos vão dizer que há muitas personalidades que merecem ser homenageadas, porém, Malala Yousafzai aqui simboliza todas as professoras e professores, do passado, do presente e do futuro. Ela é a prova viva do poder transformador das professoras e professores na vida das pessoas e, mais do que ninguém, é a prova viva do que eu acredito e costumo compartilhar com todos: “Muitos dizem que “nem tudo são flores”; eu quero mostrar que “nem tudo são espinhos”.
Concluo com a mensagem da canção dos Titãs, de Arnaldo Antunes – tem gente – Professor é a profissão que faz todas as profissões. Respeite. Admire. Reconheça!
Salve o Dia do Professor. Salvem os Professores!
GILMAR CARDOSO, advogado, poeta, membro do Centro de Letras do Paraná e fundador da Cadeira nº 01 da Academia Mourãoense de Letras.