Sem o Zaragoza, Foz do Iguaçu não será a mesma

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Uma crônica de Rogério Romano Bonato

Se Foz do Iguaçu merecia guardar uma referência gastronômica, certamente o Restaurante Antônio Maria estaria no topo da lista nostálgica. Neste caso, além do bacalhau e os bolinhos, as figuras de Maria e Euclydes Madureira ainda causam remelexo no coração de muita gente. Mas doravante, os comensais ficarão em dúvida, com o desaparecimento de outro notável e histórico estabelecimento.

E foi bem assim que aconteceu: o restaurante estava lá antes da pandemia e das pessoas se refugiarem em suas casas; bastou a necessidade de saírem, em busca do imprescindível e tristemente constatarem: cadê o Zaragoza? Desapareceu! 

A imponente propriedade que um dia foi a residência de Sílvinha e Roberto Dacache, ainda continua lá, na Rua Quintino Bocaiúva, 882, com muro basáltico, paredes de tijolos à vista e lapacho do piso ao teto, mas agora, sem a placa e o escudo do leão coroado; sem as fotos na entrada; sem a alma. 

Cadê o aroma da cozinha torturando a vizinhança? Em realidade, não há mais fogões, panelas, pratos batendo e nem um dos cardápios mais honestos e completos da cidade, com excelência em frutos do mar e ênfase ibérica; acabou-se a paella com o “ouro da cozinha”, ou, açafrão de verdade; sem chance, não houve tempo para a última sangria. 

Mas não vamos falar aqui só dos sabores e sim de saudade, afinal, o Zaragoza foi levado adiante e mantido por quase 40 anos, graças a teimosia e persistência do aragonês Francisco Serrano Martinez, o nosso “Paquito”. Ele seguiu a cartilha de Cervantes, a mover os moinhos de vento, na ilusão de superar dificuldades. Mas a vida é moinho triturador de sonhos, lição ardente, até para os otimistas, ao encararem o desmonte injusto; um conjunto de fatores, quais, nem merecem ser lembrados. Como o Zaragoza, as causas e efeitos fazem parte do passado.  

Todas cidades possuem ambientes pitorescos, lembrando a boa mesa, mas quando o tradicional esvai, dói. Para os frequentadores, o Zaragoza não era apenas um lugar para se comer e beber; conservava um certo espírito templário, com gerações se alternando, das cadeirinhas de crianças às pontas das mesas; lá, amigos se encontravam com fluência e desfrutavam um glamour quase extinto; comemoravam aniversários, casamentos, bodas e também as conquistas. Não raro, as pessoas se preocupavam com a aparência, antes de ir ao Zaragoza; faziam o cabelo, compravam uma roupa, porque isso fazia parte do ritual de sociedade para os iguaçuenses.     

Merecidamente, o local foi sede diplomática e honorária do Reino da Espanha. Na entrada havia o registro de décadas, por meio de um painel fotográfico, onde se atestava a frequência de uma legião de celebridades, mais os cartazes de touradas e obras de arte por todos os lados. O que será, o Paquito fará com o acervo? 

Foi consternador saber o sofrimento do “restaurateur”, e não poderia ser diferente. Casas como aquelas significam a vida dos empreendedores e se vê-las fechar, é deprimente para frequentadores, o que dizer dos proprietários?    

A frase mais corriqueira nos dias atuais é: “tudo vai passar”, mesmo que algumas situações, sabemos, jamais passarão. Mas vamos imaginar e torcer, que o Paquito dê a volta e nos devolva um pouco que seja da aura que nos ofereceu por tanto tempo. Ele é jovem, turrão, cabeça dura; é espanhol de Zaragoza, banhado na infância, com água do rio Ebro. Gente assim não desiste nunca!

Por: GDia

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