Série sobrenatural do Globoplay apresenta a pouco conhecida cultura ucraniana no BR e do PR. Veja fotos!

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Comunidades do Paraná que mantêm tradições do país europeu inspiraram ‘Desalma’; grupo folclórico de Curitiba até participou das gravações

Para quem vive no Paraná, a trama a ser mostrada pela série Desalma, que estreia na quinta-feira (22) no Globoplay, não parecerá tão distante. Proposta inédita de drama sobrenatural da plataforma de streaming, a história tem como pano de fundo as lendas, ambientes, personagens e tradições ucranianas, preservadas em diversas comunidades do estado.

A pequena Brígida, cidade fictícia da série, é inspirada em Prudentópolis, município de cerca de 50 mil habitantes do Centro-Sul paranaense, conhecido pelas suas cachoeiras gigantes, mas também por manter, proporcionalmente, a maior comunidade ucraniana do Brasil: estima-se que cerca de 80% dos seus moradores são descendentes do país europeu.

Foi na cidade que a escritora Ana Paula Maia se aprofundou nas tradições da Ucrânia. Consagrada escritora de livros, vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura, há quatro anos ela se mudou do Rio de Janeiro para o Paraná, onde teve contato com as tradições e costumes de outros povos. Da experiência, nasceu essa sua primeira investida no audiovisual.

“Meu primeiro impacto foi na comida, até que comecei a ver os bosques, os parques da cidade, as festas típicas, os vários grupos folclóricos. Eles mantêm vivas as festas, as tradições, e quase ninguém sabe nada sobre isso. Achei isso muito impressionante e pensei que o resto do Brasil precisava conhecer o que existe ali”, contou a autora em divulgação do Globoplay.

Estima-se que quase meio milhão de descendentes de ucranianos vivem hoje no Paraná. Os antepassados aportaram no Brasil a partir do final do século XIX (1891) em busca de terras e, depois, fugindo dos horrores das duas Guerras Mundiais. Eles formaram aqui a terceira maior comunidade ucraniana fora do país – as primeiras estão no Canadá e EUA. Atualmente, mais de 20 grupos folclóricos preservam as tradições no Brasil, a maioria deles no Paraná.

Desalma vai mostrar um pouco desse povo e seus costumes. Com segunda temporada já confirmada, tem direção de Carlos Manga Jr., de Se Eu Fechar os Olhos Agora, minissérie indicada ao Emmy, e Aruanas. O elenco reúne nomes consagrados, como Cassia Kis, Claudia Abreu e Maria Ribeiro e jovens talentos, como Camila Botelho e Giovanni de Lorenzi. Nathalia Garcia, conhecida pela atuação no filme Ferrugem, é uma das atrizes paranaenses da série.

Para participar da trama, todos tiveram que aprender um pouquinho da cultura ucraniana. Um dos responsáveis por apresentar a Ucrânia ao elenco foi o especialista Andreiv Choma, integrante do Folclore Ucraniano Barvinok, de Curitiba, e que há anos se dedica ao estudo das tradições do país Europeu, de onde vieram seus antepassados.

“Estive lá durante o primeiro contato da equipe com a série. Falei do folclore ucraniano de maneira geral, mas principalmente da mitologia, das lendas, do lado místico desse mundo, muito presente em Desalma. Houve um cuidado muito grande da autora em retratar a cultura ucraniana e a produção fez questão de mostrar o que nós preservamos em detalhes”, conta.

O aprendizado se reflete nas cenas, às vezes alegres, como na apresentação de danças ucranianas por um grupo folclórico de Brígida, mas em grande parte sombrias, como na reprodução da tradicional cantiga ucraniana Marusia pela misteriosa bruxa Haia (Cassia Kis).

A música faz parte do repertório do coral do Barvinok, e já foi apresentada no Festival de Etnias do Paraná, que ocorre anualmente entre julho e agosto, no Teatro Guaíra, em Curitiba.

A história de Desalma transita entre passado e presente. Em 1988, a jovem Halyna (Anna Melo) é morta durante a milenar festa ucraniana de Ivana Kupala, banindo o evento do calendário de Brígida. Trinta anos depois, a população se prepara para trazer a celebração de volta para a cidade, mas acontecimentos enigmáticos passam a assustar a comunidade.

Choma é um dos responsáveis por incluir a festa no calendário folclórico do Paraná há quase 20 anos. O evento ocorre em julho e é organizado pelo Folclore Ucraniano Spomen, de Mallet, Centro-Sul do Paraná, cidade que recebeu a primeira leva de imigrantes ucranianos do Brasil. Em 2020, a pandemia impossibilitou a celebração, que deve ser retomada no ano que vem.

“A festa tem origem pagã e comemora o início do verão na Ucrânia. Depois, ela foi incorporada pelo cristianismo, com os festejos de São João. Diversos elementos estarão muito bem retratados na série, como a fogueira, as danças, as coroas de flores e os bonecos de palha representando os deuses do amor que ao final são jogados no fogo”, explica.

O toque de terror e suspense de Desalma vai incluir eventos sobrenaturais à noite de Ivana Kupala, conhecida por ser a mais escura do ano, atraindo os ingênuos para a floresta sombria.

A equipe da série viajou pelos três estados da região Sul para ambientar a história. Durante a pesquisa, estiveram principalmente em Mallet e Prudentópolis, cidades que inspiram a trama. Já para as filmagens de Brígida, o cenário escolhido foi o da serra gaúcha, rico em florestas, penhascos, lagos e ruínas. A segunda parte das gravações ocorreu em sets no Rio de Janeiro.

O Barvinok, de Curitiba, também estará representado em Desalma. Componentes do grupo, que em 2020 completa 90 anos de preservação da cultura ucraniana na capital paranaense, participaram das gravações da trama. Em uma das cenas, a câmera transita entre o giro do dançarino Oles Sysak e o remexer da colher no borscht, sopa tradicional ucraniana, por Anatoli (João Pedro Azevedo), um dos personagens de Brígida que é afetado pelas almas das trevas.

“Foi algo único na história do grupo e num período de muita emoção porque, na época, estávamos prestes a viajar para a Ucrânia para iniciar as comemorações de aniversário. Vai ser muito bom que o Brasil conheça um pouco mais da nossa cultura”, afirma Solange Melnyk Oresten, diretora do departamento de folclore da Sociedade Ucraniana do Brasil.

Alguns trajes ucranianos usados em apresentações pelos jovens de Brígida também saíram do guarda-roupas do Barvinok. Como ressalta Solange, a participação na série ajudou o grupo a não passar o ano “em branco”, já que os ensaios, apresentações e eventos em comemoração aos seus 90 anos foram adiados por conta da pandemia do novo coronavírus.

Para 2021, já estão confirmados vários eventos do grupo, como a segunda edição do Dia da Ucrânia em Curitiba, que deve contar com a participação de vários grupos folclóricos do país.

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