Sustentável e com alta eficiência energética, edificação foi projetada por equipe formada por pesquisadores, estudantes e profissionais de diferentes áreas
O projeto Ombo’éva: Green Smart Building, uma edificação sustentável e de alta eficiência energética, acaba de ser contemplado com R$ 1 milhão para sua construção. Os recursos são provenientes do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), da Eletrobrás. O prédio, de aproximadamente 300 metros quadrados, vai abrigar um laboratório para realização de impressões 3D. O prazo para a construção é de até 24 meses.
O projeto foi desenvolvido entre dezembro de 2019 e janeiro deste ano por uma equipe de 13 pessoas, que inclui docentes e estudantes da UNILA e parceiros da iniciativa privada. “Esse projeto foi uma construção coletiva, colaborativa e sinérgica. Surgiu essa oportunidade e a gente uniu forças”, explica o docente do curso de Engenharia de Energia e do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Energia e Sustentabilidade, Oswaldo Hideo Ando Júnior.
No resultado inicial, divulgado em maio, o projeto da UNILA ficou em quinto lugar – o edital contemplava apenas os quatro primeiros classificados –, mas um dos vencedores foi desclassificado. Um novo edital, contemplando a UNILA, foi publicado no final de outubro. “Foi inesperado”, diz o professor.
A chamada pública contemplou construções Nzeb (Near Zero Energy Building – “construções com energia quase nula”, em tradução livre), que são edificações de alta eficiência energética, com geração distribuída associada, de fonte renovável e que alcançam um balanço anual energético próximo a zero. “O Nzeb é um processo, um movimento internacional. Não é só um projeto de eficiência energética e sustentabilidade. Vai dar uma visibilidade internacional para o projeto e para todos os envolvidos. A UNILA ganhou esse presente”, comenta a docente do curso de Engenharia Civil de Infraestrutura e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Kátia Punhagui. “Há edificações Nzeb que passam a ser pontos de visitação. A pessoa vai para a cidade só pra conhecer a edificação. Então acho que esse é um ganho não monetário muito importante.”
A ideia da equipe era fazer um projeto “diferente” para competir com outras instituições mais antigas e com maior infraestrutura. Por isso, algumas referências locais foram incorporadas. A começar pelo nome Ombo’éva, que em guarani quer dizer “Quem ensina”. “Nossa ideia inicial foi atrelar métodos construtivos inovadores, geração distribuída e também buscar algo diferente, porque somos uma universidade nova e sabíamos que iríamos concorrer com um pessoal bem consagrado. Foi uma surpresa também nisso, de estar à frente deles”, explica Oswaldo Ando Júnior.
O projeto está dividido em dois blocos. Um deles irá abrigar os equipamentos do laboratório e será construído com alta tecnologia para garantir eficiência energética e desempenho. No segundo bloco, onde estarão os banheiros e a área de descanso, serão utilizadas técnicas construtivas convencionais, porém, sustentáveis.
“O que talvez tenha me deixado mais feliz é que, de certo modo, o projeto arquitetônico é bem tradicional do ponto de vista do que todo arquiteto ou engenheiro civil deveria fazer. Esse foi o primeiro critério que a gente utilizou. Projetar a edificação com distribuição solar adequada”, comenta o arquiteto e docente do curso de Arquitetura e Urbanismo Egon Vettorazzi, explicando que foram utilizados os princípios básicos da arquitetura bioclimática. “Isso talvez tenha um peso muito grande, porque usar tecnologia é superimportante, mas partindo de uma boa arquitetura. Essa é a ideia do projeto arquitetônico”, completa. Entre os elementos arquitetônicos estão o uso de telhado verde, que diminui a poluição sonora e garante conforto térmico; a iluminação solar tubular, uma alternativa mais eficiente às claraboias; brises horizontais e verticais em todas as janelas, para controle da luz solar; e uso de parede de alta absortância na fachada leste.
Marcelo Langner, arquiteto e mestrando em Energia e Sustentabilidade, contribuiu com o desenvolvimento do projeto arquitetônico, principalmente da fachada, e de estratégias que pudessem diminuir o consumo energético. “Fiquei feliz de poder contribuir um pouco e estar nesse meio de pesquisa, o que nos escritórios de arquitetura não é tão aberto porque tem muitas demandas comerciais. Então foi uma oportunidade muito boa.”
Cássio Gomes de Oliveira, engenheiro civil e mestrando em Engenharia Civil, chama a atenção para um dos objetivos da edificação, que é a redução do consumo de água. “O objetivo é levar o mais próximo de zero possível a relação entre a água consumida e o que é produzido”, diz. Para isso, o projeto prevê um sistema de tratamento dos efluentes de pias e ralos com a implantação de um Círculo de Bananeira – as raízes da bananeira realizam a filtragem da água por meio de evapotranspiração – e a coleta da água da chuva por meio de cisternas para o uso na jardinagem e limpeza de calçadas.
Em relação à geração de energia distribuída (produzida no local), a edificação irá utilizar um sistema fotovoltaico (painéis ou telhas). “Hoje, em termos de geração distribuída, não tem como o profissional que está à frente de um projeto não cogitar a possibilidade de planejar a recepção do sistema fotovoltaico, mesmo que o usuário não vá usá-lo no primeiro momento”, comenta Maurício Mafra da Silva, engenheiro eletricista e mestrando em Energia e Sustentabilidade.
“Nós buscamos soluções para eficiência energética e edificação sustentável: sistema fotovoltaico, sistemas inteligentes, automação, a questão térmica com telhado verde, iluminação solar tubular, iluminação inteligente, aproveitamento de água, estratégias passivas. Tentamos misturar todas essas coisas para que a edificação não fosse só focada em energia, mas sustentável também”, resume Kátia Punhagui.
Entre as tecnologias que serão utilizadas, algumas já estão disponíveis no mercado, como a telha fotovoltaica, e outras, consideradas inovadoras, serão testadas a partir do próprio projeto, na construção e no uso. A docente cita como exemplo o Cross Laminated Timber, ou laminado de madeira cruzada, sistema construtivo que será usado no bloco que irá abrigar os equipamentos do laboratório. “O Cross Laminated Timber é uma inovação, reduz resíduos, tem alta velocidade, melhora o conforto térmico”, explica.
O prédio vai abrigar um laboratório para pesquisas, mas a obra e a edificação em si também serão objetos de estudos. “Vamos aproveitar o processo de construção para tomar dados para as nossas pesquisas do mestrado e queremos dar sequência nisso. A gente acredita que a visibilidade desse prédio vai ser bastante importante para a UNILA e para nossos cursos de pós-graduação”, diz a pesquisadora.
De acordo com o edital Procel Edifica, após finalizada, a edificação deverá ser aberta à sociedade para visitação por, pelo menos, dois anos consecutivos. Além das visitas – que serão gratuitas –, estão previstas palestras, cursos, treinamentos e seminários para demonstração e disseminação das técnicas e tecnologias presentes na edificação.
Empenho
O empenho no desenvolvimento do projeto – finalizado em apenas dois meses – para submissão à chamada pública foi um dos pontos-chave para o resultado obtido. “Foi meio insano, era período de férias. Todo mundo se sacrificou um pouco. Foi uma construção sinérgica, e cada um contribuiu o quanto podia e com o que podia”, comenta Oswaldo Ando Júnior.
A docente Kátia Punhagui também destaca o envolvimento da equipe. “Teve participação de quem estava até fora do Brasil. Foi uma construção. Cada um dentro da sua especialidade. E o pessoal aceitou o desafio para fazer um projeto pesado em período de férias.”
Marcelo lembra que chegar a um resultado significativo em um período tão curto foi possível graças às diferentes especialidades dos integrantes do projeto. “Havia muitos profissionais envolvidos e foi sincrônico”, enfatiza. “Isso não é comum em projetos. Queria chamar a atenção para o fato de que houve uma boa liderança, que conseguiu gerenciar essa equipe multidisciplinar”, elogia.
“Fiquei muito feliz e honrado em participar dessa equipe e surpreso com a notícia. A gente conseguiu concorrer com várias universidades e colocamos a UNILA lá no topo. Isso é o mais importante de tudo”, completa Adriel Rodrigues da Silva, engenheiro civil e mestrando em Energia e Sustentabilidade.
Também participaram da equipe que desenvolveu o projeto a arquiteta e mestranda em Engenharia Civil Karine Hilgenberg Martins; o engenheiro eletricista e doutorando em Energia e Sustentabilidade Marcelo Miguel; a arquiteta Letiane Benincá; o estudante de Engenharia de Energia Gabriel Marins Lemos; o engenheiro eletricista e mestrando em Engenharia e Sustentabilidade Eder Andrade da Silva; e o engenheiro em automação Rafael Carlos Jung Sperotto.