“Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca” – Darcy Ribeiro
Luiz Claudio Romanelli
Alvíssaras. Enfim temos o Plano Nacional de Vacinação e um prenúncio de que a imunização contra a covid-19 começa no início de 2021. É o início do fim dessa peste que pressionou os governantes, desafiou a ciência e sacudiu a economia global em 2020.
Ao que tudo indica a pressão do PIB brasileiro, o anúncio da vacinação em países da América do Sul e o risco da “derrota” na disputa pela paternidade da vacinação, forçou o governo Bolsonaro a se mexer e apresentar soluções.
O plano divulgado nesta semana com pompa no Palácio do Planalto contou até com a presença do olvidado do Zé Gotinha, símbolo-mor das eficientes campanhas de vacinação realizadas pelo SUS há mais de 40 anos.
O discurso radical e negacionista que permeou todos os eventos nos últimos meses, foram substituídos por um tom moderado e explicativo. São animadores os anúncios da reserva de R$ 20 bilhões para adquirir vacinas a toda população, a inclusão de mais vacinas no programa e a previsão de iniciar a imunização cinco dias após a liberação da Anvisa.
Porém, e em se tratando deste governo inquilino do Planalto sempre há o porém, é essencial que essa nova postura conciliadora seja mantida. Num momento crítico – onde a população está visivelmente extenuada e os casos e mortes só aumentam – não faz sentido colocar dúvidas na eficácia das vacinas. Muito menos estimular a utilização de medicamentos ineficazes, a exemplo da cloroquina ou do kit-covid.
O nosso caminho para salvar vidas e sair rapidamente dessa crise segue a outra direção: acelerar a aplicação universal das vacinas, divulgar a segurança, informar a população sobre o calendário e reforçar a importância das medidas de prevenção à doença.
Além da retomada segura da economia, do comércio e dos serviços, estudos apontam que o gasto previsto para vacinar todos os 211 milhões de brasileiros equivale a três meses de custos hospitalares de pacientes com covid-19 ou de apenas 5 % de tudo o que já foi investido no auxílio emergencial. A matemática me parece bastante simples.
É inaceitável, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, desdenhar “a pressa e ansiedade” da sociedade brasileira na vacinação quando o número de mortos pela doença bate novamente nos mil casos diários. E, é ainda mais inaceitável o presidente da República vir a público para orgulhosamente dizer que não irá se vacinar.
O exemplo vem de cima, meus caros. Infectologistas alertam que medidas e declarações como essas podem dificultar que o país alcance a imunidade coletiva contra o coronavírus.
Esses comportamentos erráticos de minimização do sofrimento da população ou de colocar em dúvida a vacinação só estão sendo vistos no Brasil. Chefes de outros Estados – e citarei apenas países governados por presidentes que adotaram posturas negacionistas em algum momento da crise – como EUA, Reino Unido e México já demonstraram clara e explicitamente o apoio à vacinação.
Eles sabem que a normalização dos sistemas de saúde e a retomada das economias só virão quando a doença for efetivamente controlada. A tal da imunidade rebanho que mundo tanto propala está estritamente ligada à cobertura vacinal. Só será alcançada quando cerca de 70 % da população dos países estiver vacinada, ou seja, no nosso caso quando 140 milhões de brasileiros forem vacinados.
Por isso a importância do tom conciliador e dos bons exemplos de todos os governantes – do presidente, ministros, governadores, senadores, deputados, prefeitos e vereadores.
Temos no Brasil uma força competitiva única: um sistema público de saúde com profissionais preparados e o melhor programa de imunização do mundo. Não podemos desperdiçar essa chance, a guerra política em torno das vacinas não tem vencidos, apenas derrotados. É a hora da virada. Vacina já, presidente!
Luiz Claudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, é deputado estadual e vice-presidente do PSB do Paraná.