A história da vacinação se entrelaça com a nossa própria história pessoal. No fim da década de 1990, quando nascia minha primeira filha, eu e tantos outros pais éramos surpreendidos por um artigo que associava a vacina tríplice viral ao autismo. Tínhamos acabado de viver uma epidemia de sarampo quando aquele estudo falso começava a plantar as sementes do que hoje chamamos de fake news.
Desde aquele 1999, muita coisa aconteceu na área de vacinas —inclusive com o sarampo. Há pouco tempo, li com alegria a notícia de que recuperamos o certificado de eliminação da doença.
O controle do sarampo era justamente um dos objetivos do Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado nos anos 1970. Passados mais de 50 anos, as vacinas ofertadas se multiplicaram.
Isso significa que milhares de vidas foram salvas ao longo desse tempo, mas também simboliza uma economia de recursos públicos que teriam sido usados com doenças e tratamentos.
Um estudo socioeconômico inédito, realizado pela consultoria GO Associados a pedido da Pfizer, analisou o impacto econômico da incorporação de vacinas ao PNI ao longo de dez anos, partindo justamente de 1999, com recortes temporais.
A inclusão de vacinas para cinco doenças (rotavírus, pneumonia, meningite C, hepatite A, catapora) pode ter proporcionado uma economia de quase 40% nos gastos hospitalares públicos entre 2014 e 2019, associada ao aumento de cerca de 63,8 pontos porcentuais na cobertura vacinal dessas doenças.
Vacina é investimento social. No trabalho da GO Associados, em análise extrapolada para 16 doenças, a inclusão de vacinas promoveu uma economia estimada de R$ 280 milhões por ano em recursos do SUS devido a infecções evitadas.
Essa lista inclui, além das cinco primeiras doenças citadas, febre amarela, tuberculose, difteria, tétano, coqueluche, influenza, hepatite B, poliomielite, sarampo, caxumba e rubéola. Os gastos públicos hospitalares ligados a tais doenças, de R$ 430 milhões anuais entre 2014 e 2019, poderiam ter chegado a R$ 710 milhões por ano se as vacinas não tivessem sido incorporadas.
Faço essa reflexão num momento emblemático, em que passado e futuro da vacinação no Brasil se encontram.
Neste ano, celebramos 120 anos da primeira campanha de vacinação em massa, contra a varíola, enquanto outros inimigos emergem. É o caso do vírus sincicial respiratório (VSR), responsável pela maioria das infecções respiratórias graves em bebês, como a bronquiolite.
O VSR pauta uma das grandes discussões atuais no PNI: a possibilidade de incorporar a primeira vacina que imuniza bebês ainda no útero materno contra o vírus. Diferentes países já ofertam a tecnologia e a Organização Pan-Americana da Saúde se adiantou para facilitar esse acesso a seus membros. No Brasil, com o VSR sendo o vírus mais diagnosticado nos casos de síndrome respiratória aguda grave em 2024, o debate segue intenso.
Mais que proteger nossas crianças, investimentos em imunização criam uma equação que beneficia a sociedade toda. Com doenças controladas, recursos poupados podem ser redirecionados para ampliar serviços médicos essenciais. Olhar para todos esses coeficientes é fundamental para manter o Brasil na vanguarda da saúde pública, com políticas que perpetuem o legado do PNI através dos tempos .