“Até quando esperar a plebe ajoelhar” – Plebe Rude
Luiz Claudio Romanelli
A semana passada registrou um dos episódios mais vergonhosos da história recente brasileira. O inquilino do Palácio do Planalto comemorou a determinação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de interromper os testes da Coronavac, a vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan para combater a covid-19.
Aliás, é muito mais do que vergonha alheia. Quando esperávamos que o presidente Jair Bolsonaro tivesse chegado ao limite da paciência dos brasileiros, ele ultrapassa mais uma vez essa linha.
Uma atitude desprezível, que desrespeita a memória dos mais de 160 mil mortos pela doença, zomba da dor dos seus familiares, tripudia das centenas de milhares de pessoas que ainda sofrem com as conseqüências dessa doença cruel e ignora o desejo da população de ter, no tempo mais breve possível, uma vacina segura, capaz de acabar com essa pandemia e devolver a normalidade ao país.
Bolsonaro volta a colocar os seus interesses políticos à frente da ciência e da saúde do povo brasileiro. O capitão – que idolatra torturador e diz que não é coveiro – politiza a questão da vacina com interesses em 2022 ou por ignorância. Na mente limitada por votos e recheada de teorias conspiratórias, o sucesso da vacina Coronavac é uma vitória do seu adversário, o governador João Dória (PSDB-SP).
Pior, é de um laboratório da China, o país considero comunista e que provoca urticária no atual presidente e nos mais próximos.
A declaração foi desmontada pela imprensa, rechaçada no Congresso e por diversos governadores, recebeu duras críticas da comunidade científica e causou enorme perplexidade no exterior, onde há uma corrida frenética por vacinas.
O Jornal Nacional dedicou 24 minutos de sua programação com reportagens e intervenções de Willian Bonner e Renata Vasconcellos para denunciar uma “politização evidente” do assunto. Praticamente todos os veículos de comunicação noticiaram que o “evento adverso grave” havia sido uma trágica morte de um dos voluntários que participava dos testes em São Paulo. Nada relacionado à vacina.
De Genebra na Suíça, técnicos da Organização Mundial da Saúde (OMS) se espantaram com a comemoração do presidente Bolsonaro e com a ausência de transparência na divulgação da interrupção.
Os especialistas da OMS afirmam temer que disputas políticas afetem a imunização da população brasileira. Até porque, para os técnicos, o Brasil com seu tamanho continental necessitará de mais de uma vacina para conseguir imunizar toda sua população.
E talvez, a evidência mais cabal da politização do processo tenha vindo do próprio governo. Poucas horas depois de ter anunciado a interrupção dos testes da Coronavac, a Anvisa voltou a atrás e autorizou a continuidade dos processos.
É inconcebível politizar a vacina que pode ser a prevenção dos brasileiros contra a covid-19. Aliás, esse debate irascível corrói a confiança da população nas vacinas – mesmo que 89% se declaram a favor dela – e fomenta os famigerados grupos anti-vacina, que, pasmem, em pleno século XXI ainda tem força.
É mais um absurdo, uma vergonha para o nosso país ter um presidente que ri, tira sarro, boicota as boas ações e faz pouco caso do drama dos brasileiros. Até quando, meu Deus?!
Ainda bem que os testes suspensos pela Anvisa foram retomadas. Segundo a nota divulgada pela agência, o “evento adverso grave” que levou à suspensão ainda está sendo investigado. A Anvisa informou que “não está divulgando a natureza” do ocorrido em respeito à privacidade e integridade dos voluntários de pesquisa”.
Luiz Cláudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, é deputado estadual e vice-presidente do PSB do Paraná.