Um filhote de urutau está sob cuidados dos pais em recinto na trilha de visitação. Não são conhecidos registros do nascimento da espécie em zoológicos no país
No Dia da Ave, 5 de outubro, o Parque das Aves tem motivos duplos para comemorar. Além da data de extrema relevância para a instituição, nasceu nesta madrugada um filhote de urutau (Nyctibius griseus), espécie raramente mantida sob cuidados humanos. Os pais do filhote estavam incubando o ovo há mais de 30 dias no recinto onde vivem, que fica na área Encantos da Noite. A equipe técnica do Parque das Aves estava acompanhando tudo desde o início, e vários exames já haviam sido realizados para confirmar que o ovo estava fértil e que o embrião estava em pleno desenvolvimento.
“Estamos muito felizes com esta notícia linda, que vem celebrar essa data tão importante para nós que trabalhamos aqui no Parque das Aves! Como é algo inédito, estávamos há vários dias na expectativa do nascimento, acompanhando cada etapa do desenvolvimento e observando o cuidado parental com extrema dedicação”, comenta Paloma Bosso, diretora técnica do Parque das Aves.
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Operação filhote de urutau
A equipe técnica já vinha prevendo a possibilidade deste nascimento tão raro, afinal esta não foi a primeira postura fértil feita pelo casal. Antes deste, 8 ovos não férteis já tinham sido registrados em 2021 e depois um ovo fértil em 2022. A equipe seguiu com os melhores cuidados para que os pais pudessem seguir com seus comportamentos reprodutivos.
“Mário, tratador dos animais, foi quem notou o ovo no ninho. Dias após o avistamento, as biólogas Bianca e Analy, da equipe de Neonatologia, foram até o recinto para iniciar o monitoramento, incluindo um exame de ovoscopia, que consiste em observar o interior do ovo com o auxílio de uma luz. Câmeras instaladas no recinto também ajudaram no monitoramento comportamental no período noturno, horário de pico de atividade da espécie. No dia 3, notamos o filhote bem ativo no interior do ovo e já rompendo a membrana interna. Ontem, dia 4 de outubro, notamos rachaduras na casca ovo, e hoje pudemos confirmar a notícia do nascimento logo cedo”, celebra Paloma.
Espécie de hábitos noturnos
Com ocorrência em todo o Brasil, incluindo áreas de Mata Atlântica, o urutau é uma ave de hábitos noturnos, ou seja, fica alerta à noite, caçando insetos em voo para se alimentar, e durante o dia permanece completamente imóvel.
“O urutau é um caçador noturno, que voa com sua boca aberta capturando insetos. Quando resgatado, geralmente decorrente de maus-tratos, ele tende a apresentar dificuldade para se alimentar, o que compromete sua qualidade de vida em ambientes não naturais. Como o Parque das Aves acolhe a espécie desde 2011, fomos aprimorando nossos cuidados para oferecer o melhor grau de bem-estar possível a estes animais. Desde o oferecimento de itens alimentares adequados, como a criação de um espaço desenhado para a espécie, incluindo a instalação de lâmpadas que atraem insetos e não incomodam os animais. Tudo foi cuidadosamente planejado para proporcionar o maior conforto para animais tão vitimados por ações humanas”, comenta Paloma.
Urutaus em seu ambiente natural
Hoje, vivem no Parque das Aves cinco urutaus, todos provenientes de resgates realizados pelos órgãos ambientais. Como o comportamento natural de descanso da ave envolve permanecer imóvel por muitas horas durante o período diurno, muitas pessoas acabam imaginando que as aves estejam feridas ou doentes e então acabam “resgatando” os animais sem necessidade.
“Quando encontramos uma ave repousando, o ideal é observá-la a distância, deixando-a descansar com tranquilidade. Porém, se ela realmente estiver ferida, a recomendação é não tocar nos animais, e sim acionar o órgão responsável pelo resgate de fauna na sua região. Lembrando que essa conduta só é necessária quando, de fato, é preciso intervir para salvar a vida do animal”, explica Paloma.
Além disso, por serem animais pouco conhecidos pelas pessoas e por terem hábitos noturnos e características físicas que os favoreçam neste período do dia, como olhos grandes e coloração marrom, que os camufla nos troncos de árvores, os animais são frequentemente relacionados a mau agouro. A vocalização noturna da espécie também é usada como motivação para agressões a estes animais que infelizmente sempre chegam feriados ao Parque das Aves, muitas vezes com fraturas em asas e lesões variadas em seus corpos.
“Respeitar os hábitos das espécies, bem como manter seus habitats conservados é essencial para que possamos manter um melhor equilíbrio ambiental, que favorece a vida de todos os seres vivos, incluindo os humanos. Quando infelizmente algo nesse processo falha, os animais precisam contar com nossos melhores cuidados e maior dedicação para que possam seguir com uma qualidade de vida, ainda que fora de seu ambiente natural. Há quase 30 anos o Parque das Aves dedica-se a essa nobre e tão especial missão com todos os refinamentos necessários”, finaliza Paloma Bosso.