Imaginem um tribunal solene. No centro, uma bancada de juízes togados. Não qualquer juízes, mas os recém-nomeados Censores Gerais da República, encarregados de decidir o futuro da música no Brasil. Eles seguram martelinhos dourados e têm playlists aprovadas pelo Estado.
O primeiro réu entra na sala. É um jovem cantor de funk. Seu crime? Uma letra sobre ostentação e vida no crime. O juiz bate o martelo. “Culpado! Apologia ao crime. Proibido em todas as escolas do Paraná!”
O segundo réu é um sertanejo universitário. Letra melancólica, um refrão que chora traição e cerveja quente. “Incentivo ao alcoolismo e à depressão! Fora das escolas!”
O terceiro é um roqueiro veterano. A música? Uma balada de protesto contra a censura. “Subversão ideológica! Proibido!”
O próximo caso intriga os magistrados: um DJ de piseiro. “E esse aqui?” pergunta um censor. Outro responde, confuso: “Nem sei se isso é música, mas por via das dúvidas… proibido também.”
Por fim, um pastor entra carregando um violão. “Essa é pra Jesus!” proclama. Os censores hesitam. A melodia é pobre, os versos repetitivos, mas ninguém quer parecer herege. Após longos segundos de tensão, o presidente do tribunal resolve: “Permitida, desde que não ultrapasse 85 decibéis e que a rima ‘Senhor’ e ‘amor’ seja limitada a cinco repetições.”
A sessão é encerrada com um aviso solene: “A música adequada será anunciada em Diário Oficial. A execução de qualquer outra poderá resultar em multa ou, em casos mais graves, na condenação do infrator a um show de K-pop sem intervalo.”
E assim, o Brasil dorme em paz, livre da influência maligna das canções. Afinal, um país sem problemas reais precisa muito de um bom tribunal para julgar melodias.