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O Chihuahua Invisível, o Espírito de Conan e a Tarifa de 104%
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Imagem ilustrativa: Diário de Foz/Meta AI

Dizem que a história se repete, primeiro como tragédia, depois como farsa. O problema é quando as duas versões andam de coleira no mesmo quarteirão, latindo grosso. Se Rosenberg inventou uma mitologia ariana para justificar o horror, Bannon batizou o mesmo fantasma de “nacionalismo econômico” e ofereceu ração gourmet para todos os cães da nova extrema direita global. A diferença é que, agora, os fantasmas têm Instagram.

Comecemos pela Argentina. Javier Milei, presidente eleito por clonar promessas e cachorros, conversa com o espírito de seu cão morto, Conan. Com a ajuda de uma médium, recebe conselhos sobre economia, poder e, quem sabe, sobre onde guardar o osso da inflação. Os clones de Conan, aliás, levam nomes de economistas austríacos. A metáfora morde sozinha.

Do outro lado da fronteira ideológica — ou talvez da coleira — temos Peter Navarro, arquiteto da guerra comercial de Trump contra a China. Navarro é o tipo de homem que, quando falta uma fonte confiável, cria uma. Assim nasceu Ron Vara, um alter ego que só existe na cabeça do próprio autor — um anagrama disfarçado e um truque de ilusionista acadêmico. Cansado de ouvir economistas de verdade, Peter decidiu fabricar um, como quem encomenda um pug de pelúcia: compacto, fiel e ideologicamente treinado.

Não muito longe, nos corredores do Planalto tupiniquim, rondava o espectro de Olavo de Carvalho. Sem título formal, mas com um cajado filosófico e um Twitter ativo, Olavo foi o guia metafísico de Jair Bolsonaro. Indicava ministros como quem indica cartas de tarô. Entre lives, tosse e negacionismo, o astrólogo fazia de tudo, menos astrologia. Olhava para o céu e via apenas marxismo cultural.

E como esquecer Steve Bannon — o Gandalf do nacionalismo de shopping center? De Breitbart à Casa Branca, Bannon defende o colapso das instituições liberais como quem espera a Black Friday da democracia. Com voz grave e cabelo desalinhado, espalhou a ideia de que o caos é o primeiro passo para a ordem… contanto que ele seja o encarregado da bagunça.

Todos esses senhores, cada um à sua maneira, contribuíram para transformar o debate econômico num ringue místico. A “guerra de tarifas” contra a China — com seus 104% de punição comercial — não se explica apenas com planilhas. É preciso um cão falante, um astrólogo em surto e um pseudônimo de papelão. É preciso gente que vê o comércio global como um duelo de sabres entre o Ocidente e um dragão invisível com olhos de tofu.

Enquanto isso, os economistas sérios tomam café e tentam entender por que o preço da soja depende do humor do Chihuahua ectoplasmático de Buenos Aires. A verdade é que, no fim, todos esses personagens acreditam em alguma versão mágica do mundo. Seja ela moldada em runas nórdicas, gráficos fajutos ou sessões espíritas com Milton Friedman.

Talvez seja por isso que a economia anda tão imprevisível. Não é mais sobre oferta e demanda — é sobre quem tem a melhor conexão Wi-Fi com o além.

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