“Conseguimos fazer nesses 100 e poucos dias um Paraná sem quarentena, é importante registrar”, diz
O governador Ratinho Junior disse nesta entrevista a Jasson Goulart da RICTV – antes da decisão que suspendeu a prorrogação da quarentena nas cidades de sete regionais de saúde – que o Paraná continua em alerta com a transmissão da covid-19 que está ainda em alta. “Hoje, a nuvem da pandemia do coronavírus está no sul do país”, explica.
Ratinho Junior detalha alguma das ações que o Estado está fazendo no combate à pandemia, da autonomia dos prefeitos em decidir sobre as medidas de prevenção, do panorama da volta às aulas, da queda brusca da economia, do apoio aos setores e segmentos mais atingidos pela crise, da próxima temporada no litoral e da expectativa do Paraná pós-pandemia.
“Não tenho dúvida: vamos sair dessa o quanto antes, recuperar a economia com rapidez porque temos uma vocação e uma qualidade que poucas pessoas no mundo tem, que é gostar de trabalhar”, disse o governador.
Leia a seguir, os principais trechos.
Qual a sua avaliação dos 100 dias de pandemia?
Ratinho Junior – Desde o início, há 100 dias, já falávamos que a grande preocupação é o inverno, que não é uma preocupação só do Paraná é do sul inteiro. Hoje, a nuvem da pandemia do coronavírus está no sul do país. Teve em São Paulo logo no início, acabou migrando para o norte e nordeste por conta da umidade que propaga e agora com o frio, ganha força no sul e o Paraná não está fora disso.
Outra questão que preocupa desde o começo da pandemia é a questão São Paulo. Fazemos divisa com São Paulo e lá é onde está o epicentro da pandemia. O Paraná tem uma relação comercial muito forte com São Paulo. As pessoas que moram no interior, comerciantes, empresários acabam indo no Brás, na rua 25 de março. Essa ida e vinda é uma preocupação porque a gente acaba importando o vírus além dos que já temos no estado.
Conseguimos fazer nesses 100 e poucos dias um Paraná sem quarentena, é importante registrar. Tivemos alguns casos, de uma ou outra cidade fazer o fechamentos de alguns pontos do comércio. Mas o Paraná, como um todo, não teve nenhum tipo de restrição a não ser pontual como shopping, academia que são ambientes onde a propagação é muito forte. Mas chegou um momento, no início do inverno agora que tivemos que dar uma segurada na força do vírus para que não entre em colapso o sistema de saúde.
Teve algumas cidades que tiveram situações diferente? Como Londrina, por exemplo.
Sempre respeitamos a decisão local. Até o próprio STF já tinha decidido que os decretos municipais têm que ser respeitados e as decisões locais também precisam ser respeitadas. Construímos o planejamento da quarentena em alguns lugares através de uma equação que a Secretária de Saúde sobre o número de leitos de UTI, número de pessoas contaminadas e número de óbitos.
Temos situações na região oeste onde tem um número de infectados muito maior, mas a taxa de mortalidade é pequena. Já a região de Londrina, temos menos infectados mas está o triplo da média do estado. Existem focos onde a Secretária de Saúde estuda de segurar o vírus e compreender como é melhor tratar esse momento.
É muito difícil ter que parar uma comércio, é duro demais, uma decisão que nos afeta pessoalmente. Tenho amigos que têm comércio, que vivem disso, que geram empregos e você ter que fazer um freio, é duro para as pessoas que estão no comércio e estão sofrendo muito.
O senhor pretende prorrogar a quarentena?
A Secretária de Saúde vai fazer um balanço e tivemos um aumento no número de pessoas nesse isolamento social nesses últimos dez dias. Não chegou ao que gostaríamos, mas ele cresceu 8, 9% a mais de pessoas que ficaram em isolamento. A ideia é que tenha um freio na pandemia. Só para ter noção, os dados Ipardes, que faz toda a estatística com precisão fantásticas, era para estarmos com 44 mil casos, chegamos ontem (quinta-feira, 9) com 37 mil casos, então, já tem surtido efeito essas medidas. O pico ainda não chegou. Acreditamos que com o frio vai crescer ainda e claro se as pessoas continuarem achando que existe uma normalidade nesse momento, acabam propagando mais ainda a pandemia.
Alguma decisão que deveria ter tomado antes, ou não?
Toda a decisão que tivemos até agora foi planejada. Começamos a planejar em fevereiro, a saúde no Paraná evoluiu muito mais ficou centralizada em Curitiba. Quando eu assumi o governo, começamos a fazer uma descentralização da saúde, a fortalecer hospitais do interior e isso começou lá atrás por causa da dengue que tinha uma estatística que seria muito forte no estado e que o Paraná não estava imune. Começamos a preparar os hospitais para isso e quando chegou o coronavírus, fortalecemos a saúde no interior e também na capital. Tanto é que tínhamos três hospitais que eram para ser entregues em dezembro desse ano e janeiro do ano que vem, e eu já entreguei no fim de maio e início de junho em Ivaiporã, Telêmaco Borba e segunda-feira (13), vamos entregar em Guarapuava uma hospital que vai atender toda a região. Então, antecipamos seis, sete meses de obra, eram pessoas trabalhando 24 horas por dia.
A volta às aulas, qual é o panorama?
Montamos um comitê com professores, diretores, técnicos da Secretaria da Educação e profissionais da saúde. Acredito que antes de setembro a gente não tenha a volta às aulas na questão física. Já temos um projeto, o primeiro do Brasil. Criamos o ensino à distância e os jovens que estudam na rede estadual têm aula na televisão. Aqueles que por algum motivo não tenham esse tipo de acesso, fizemos uma parceria com o Google Classroom, uma plataforma que o Google doou ao Estado. O Paraná foi o primeiro estado onde o aluno interage com o professor e recebe todo o conteúdo. É como se fosse uma sala de aula na internet. O estudante que não tem 3G e wifi em casa, pagamos a internet para que ele possa ter acesso. É uma referência no Brasil tanto que já passamos de 90% de presença de alunos.
Dá para ter uma ideia quando voltam às aulas?
Isso é o que o comitê está estudando. Talvez teremos que fazer rodízio de aulas em sala de aula, uma parte vai ter ensino à distância a outra, presencial. O convívio é importante para as crianças, elas estão sofrendo em casa há quatro meses. Mas não vamos colocar em risco as vidas das crianças e professores. Esse modelo, estamos estudando, e o mais importante: a hora que todo mundo tiver segurança e o Estado entender que pode liberar, ai vamos fazer isso.
Nesse período de crises como está o caixa do estado?
Teve uma quebra brusca na economia do Brasil todo e do mundo inteiro. As estatísticas dizem que a economia vai cair no mundo cerca de 9%, o Brasil já vem sendo afetado por isso e o Paraná, obviamente, também, mas temos a agricultura que tem uma musculatura maior.
Alguns estados já estão parcelando os salários dos funcionários. Não é o nosso caso, estamos conseguindo manter em dia com muitos cortes. Já cortamos secretarias e diminuímos custos. Boa parte da equipe do governo está trabalhando em home office para diminuir os custos. Conseguimos manter o salário em dia dos servidores.
O que senhor pretende fazer para resolver a situação do caixa do estado? Vem dinheiro do governo federal? Tem previsão desse R$ 1 bilhão e pouco para ajudar?
Veio uma parte desse recurso que vai ser uma ajuda muito grande aos estados. É R$ 1,07 bilhão. Esse dinheiro está sendo fatiado pelo governo federal, já entrou R$ 450 milhões, e a cada mês vai entrando um pouco e entra na Secretaria da Fazenda para pagar as contas. Nós conseguimos não parar obras e estamos tocando. Estamos conseguindo reformar estradas e com muito sacrifício estamos cumprindo com esses desafios e ainda pagar a folha (do funcionalismo).
O Cartão Comida Boa, já foi paga duas parcelas e agora será a terceira.
Sim, temos a terceira parcela que começa a ser paga na terça-feira (14) ou quarta-feira(15). É um complemento dao auxílio do o governo federal, um dinheiro do caixa do Estado, que é um fundo da pobreza para justamente atender as famílias mais carentes. Vamos atender aproximadamente um milhão – quase 40% da população do Paraná. É o maior programa hoje de assistência alimentar do Brasil feito por um estado.
E o pequeno empresário? O Estado vai ajudar as pequenas empresas, as maiores responsáveis pela criação de empregos?
Muitos empregos. O comércio está sofrendo muito, é o setor mais afetados e desde março sabíamos que o comércio ia sofrer muito. Isentamos 207 mil empresas de pagamento do ICMS, e além disso abrimos uma linha de crédito na Fomento Paraná de R$ 420 milhões para atender autônomos, micro e pequenos empresas.
O setor de vans escolares está parado, também vai ter ajuda?
Esse setor também está sendo muito afetado e historicamente, tenho um relacionamento grande com o transporte escolar, era representante deles na Assembleia e na Câmara dos Deputados. Estamos criando uma linha de crédito para atendê-los.
E as obras do litoral, a pandemia atrapalha, como vai ser?
Temos um bom projeto para o litoral do Paraná. É um bom litoral, temos dezenas de ilhas, mas sempre pouco investimento em infraestrutura. Importante frisar que a natureza é importante no litoral, a população é muito importante, mas o turismo é a grande vocação do estado e só acontece se tiver infraestrutura. Então, temos que criar uma boa infraestrutura no litoral.
A Ilha da Mel, por exemplo, os trapiches eram um horror. Temos que fazer dois grandes trapiches modernos, seguros, com acessibilidade para melhorar o transporte. Queremos fazer também toda a regularização fundiária da ilha . As pessoas moram lá há 30 anos e não tem um documento do seu terreno e acabam não podendo investir.
Estamos a poucos dias de ter a doação do projeto da PR-407 que liga Paranaguá até a Praia de Leste, hoje uma rodovia de mão única que queremos duplicar. Começamos o projeto da JK, a avenida que entra em Matinhos. É uma obra muito boa porque um trânsito em especial no verão. Tem uma série de projetos que já estamos fazendo para o litoral.
O que o Estado espera para a próxima temporada do litoral, está está se estruturando para isso?
Estamos trabalhando de que teremos um verão e torcendo para que a pandemia passe o quando antes. Está tudo planejado, eventos igual o ano passado, shows, esportes, parceria com arenas. Estamos trabalhando com otimismo que a pandemia vai passar o quanto antes e que vai ser um litoral forte para atender os turista e também quem mora lá.
Então, o Estado acredita em uma boa temporada?
Está tudo programado. A Ilha das Cobras será uma escola do mar, uma escola de hotelaria e gastronomia e vamos ensinar os jovens do litoral a criação de ostra, de marisco, de camarão para produzir e gerar riqueza.
Tem previsão de quando isso vai acontecer?
Fizemos uma parceria com o Sesc/Senac que estão elaborando um projeto para ensinar esses jovens. Já estamos fazendo o projeto arquitetônico para as reformas nos ambientes e até início do ano que vem, queremos lançar isso no Paraná.
O senhor espera que o Paraná saia mais rápido desta crise?
O Paraná é o estado mais musculoso do Brasil. Tem um São Paulo industrial, mas o Paraná é o maior produtor de alimentos por metro quadrado do mundo. O alimento é a necessidade básica para o ser humano sobreviver e isso é uma base econômica muito importante. Temos uma riqueza muito forte e estou muito motivado com o projeto de planejamento, da infraestrutura logística que estamos implantando no Estado. Não tenho dúvida: vamos sair dessa o quanto antes, recuperar a economia com rapidez porque temos uma vocação e uma qualidade que poucas pessoas no mundo tem, que é gostar de trabalhar.
Olhos
“Não tenho dúvida: vamos sair dessa o quanto antes, recuperar a economia com rapidez porque temos uma vocação e uma qualidade que poucas pessoas no mundo tem, que é gostar de trabalhar”.
“Estamos trabalhando de que teremos um verão e torcendo para que a pandemia passe o quando antes. Está tudo planejado, eventos igual o ano passado, shows, esportes, parceria com arenas”.
“Isentamos 207 mil empresas de pagamento do ICMS, e além disso abrimos uma linha de crédito na Fomento Paraná de R$ 420 milhões para atender autônomos, micro e pequenos empresas.”
“Sempre respeitamos a decisão local. Até o próprio STF já tinha decidido que os decretos municipais têm que ser respeitados e as decisões locais também precisam ser respeitadas”.
“Talvez teremos que fazer rodízio de aulas em sala de aula, uma parte vai ter ensino à distância a outra, presencial”
“Começamos a preparar os hospitais para isso e quando chegou o coronavírus, fortalecemos a saúde no interior e também na capital”.