Área de preservação permanente conecta florestas protegidas pela Itaipu ao Parque Nacional do Iguaçu.
O Corredor Ecológico Santa Maria, um dos projetos ambientais mais importantes para a preservação do meio ambiente no Oeste do Paraná, está completando 20 anos em 2021. Trata-se de um dos poucos corredores ecológicos estabelecidos com força de lei no Brasil e é resultado da atuação de diversas instituições locais, estaduais e federais que atuaram em parceria, juntamente a proprietários de terra que cederam parte de suas propriedades para o projeto.
Com 976 hectares que somam remanescentes de áreas naturais, e outras regeneradas ou de proteção permanente em duas microbacias (as dos rios Apepu e Bonito), o Corredor Ecológico Santa Maria conecta o Parque Nacional do Iguaçu (PNI), ao sul, passando por importantes fragmentos preservados, às áreas protegidas da Itaipu Binacional, ao norte. E, assim, insere-se em um contexto ainda mais amplo, do Corredor de Biodiversidade do Rio Paraná, que contempla ainda mais ao norte o Parque Nacional da Ilha Grande, e do Corredor de Biodiversidade Trinacional, que abrange áreas de proteção no Paraguai e na província argentina de Misiones.
“O Parque Nacional do Iguaçu é o último grande remanescente do bioma Mata Atlântica no interior do País”, destaca a engenheira florestal Veridiana Pereira, da Divisão de Áreas Protegidas da Itaipu, lembrando que a base para a formação do corredor foi a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) da Fazenda Santa Maria que, por sua vez, é o maior fragmento de mata nativa original da região, fora do PNI.
A iniciativa dos proprietários da Fazenda Santa Maria para declarar essa área de 242 hectares como RPPN ocorreu ainda nos anos 1990, época em que também ocorreram os primeiros contatos com outros proprietários de terra para sensibilizá-los para a necessidade de estabelecer essa conexão entre as áreas da Itaipu e do PNI. Hoje, esta área é protegida por lei, o que garante a manutenção deste patrimônio para as futuras gerações. O corredor favorece a saúde do meio ambiente, por contribuir com o fluxo genético de flora e fauna.
Em 2001, por se mostrar muito relevante para a região, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) publicou a portaria 137/2001, declarando o conjunto de áreas compostas pela RPPN, pela bacia do Rio Apepu, pela bacia do Rio Bonito e pela conexão com a faixa de proteção do reservatório da Itaipu como corredor ecológico. Em 2007, essa relevância viria a ser reforçada pelo Decreto 5.092/04/MMA, do Ministério do Meio Ambiente, que considerou essa área de alta importância biológica para a conservação da biodiversidade.
A experiência local do Corredor Ecológico Santa Maria não se restringe apenas à restauração florestal das áreas de preservação permanente, mas é um exemplo muito maior pelo processo de articulação interinstitucional e trabalho conjunto realizado, que pode inclusive ser replicado em outras bacias hidrográficas.
Além dos proprietários rurais das microbacias, o trabalho envolveu o Ministério Público Estadual, Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Secretaria de Meio Ambiente do Paraná (Sema), Ibama, Parque Nacional do Iguaçu/ICMBio, Itaipu, Concessionária Ecocataratas, prefeituras de Santa Terezinha de Itaipu e São Miguel do Iguaçu, Departamento de Estradas e Rodagem (DER) e a Faculdade Anglo-Americano, por meio do curso de Biologia.
“Muitas reuniões foram realizadas a fim de levantar os desafios, bem como encontrar soluções práticas, como a readequação das estradas rurais e a transposição da BR 277, abastecimento de água potável, implantação de abastecedouros comunitários para limpeza de maquinário sem contaminar os rios das microbacias”, conta Veridiana.
A demarcação topográfica do corredor foi realizada em 2002 pela Itaipu. As áreas de preservação permanente que sofriam com o acesso de gado foram isoladas por 76 quilômetros de cerca, construídas em convênios entre a Itaipu e as prefeituras, com madeiras cedidas pelo Ibama.
A restauração florestal (onde não havia vegetação) foi realizada em diversas etapas, e se estendeu desde 2002 até o ano de 2008. O IAP cedeu a maior parte das mudas florestais, juntamente com a Itaipu, o que totalizou 128 mil árvores plantadas em aproximadamente 73 hectares.
Atualmente, são 906 hectares conservados. Somente na fazenda Santa Maria, 472 hectares são destinados à conservação, além das reservas legais já averbadas. Seu território guarda as nascentes de importantes rios como o São João, Tamanduá, João Gualberto, além do Apepu e Bonito.
Fotos: Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional