Objetivo é fornecer informações técnicas para a tomada de decisões sobre a piscicultura em tanques-rede e outros usos da água
A Itaipu Binacional, por meio da Divisão de Reservatório da Diretoria de Coordenação, acaba de concluir uma nova etapa de estudo que avalia os impactos ambientais da aquicultura (piscicultura em tanque-rede) na região Oeste do Paraná. A equipe coleta amostras e mede parâmetros importantes de qualidade da água, como algas e microinvertebrados, nutrientes e sedimentos, além de avaliar a comunidade de peixes nativos.
Conforme explica a bióloga de Itaipu Caroline Henn, o estudo começou em 2016 e é realizado em parceria com pesquisadores da área de Engenharia de Pesca da Unesp e da Unioeste. A cada três meses, a equipe coleta as amostras na área selecionada para a pesquisa, em quatro pontos de um braço do Rio Ocoí, em Itaipulândia e São Miguel do Iguaçu.
Segundo Caroline, apesar de algumas pesquisas apontarem impactos ambientais – como o aumento na quantidade de nutrientes dissolvidos na água (o que pode favorecer o crescimento de microalgas, no processo conhecido como eutrofização) e alterações nas comunidades aquáticas nos locais em que os tanques estão instalados (especialmente dos peixes nativos) –, a literatura científica sobre o tema ainda é escassa.
“Embora exista um grande potencial teórico para produção de peixes nos reservatórios de hidrelétricas, as incertezas sobre a extensão dos impactos ambientais da atividade limitam o seu desenvolvimento, pois a falta de informação afeta diretamente os processos de licenciamento e de gestão da aquicultura”, explicou Caroline. “Este projeto tem o objetivo de fornecer informações técnicas robustas, que sirvam de base para a tomada de decisões sobre a piscicultura em tanques-rede e outros usos da água”, completou.
Além dos parâmetros ambientais, também é realizada a amostragem de peixes, que dura 24 horas, já que o nível de atividade varia bastante entre as espécies. Baterias de redes de espera de diferentes malhas são instaladas e revistadas a cada quatro horas. Os peixes são conduzidos a um laboratório montado em terra, onde são identificados, medidos e pesados. São analisados também o grau de enchimento dos estômagos, para compreender os perfis de atividade alimentar, e as gônadas, para determinar o sexo e o grau de atividade reprodutiva de cada indivíduo.
Segundo o engenheiro agrônomo da Itaipu André Watanabe, que participa da iniciativa desde o seu início, a base de dados já obtida é vasta e única para estudos dessa natureza. Já foram confirmadas mais de 50 espécies, a maioria nativas e de hábitos sedentários (o que é esperado para o local, em função das características hidráulicas), algumas alóctones (nativas de outras bacias) e uma exótica (tilápia) provavelmente oriunda de escape da piscicultura em tanque-terra, praticada próxima ao reservatório. Ao longo do trabalho, também foram capturadas espécies raras na área do estudo, como o tatu (Rhamphichthys hahni).
A equipe da Divisão de Reservatório está preparando o próximo passo: a instalação dos tanques para a produção de peixes. A previsão é que, após a assinatura de um novo convênio e a instalação das unidades de cultivo, as coletas de dados ambientais, produtivos e econômicos prossigam por pelo menos mais dois anos, e por outros dois anos após a retirada dos tanques, com o objetivo de avaliar a recomposição ambiental. “A comparação das variáveis nas fases pré, durante e pós instalação será realizada de forma a gerar publicações técnicas e científicas que contribuam para o desenvolvimento sustentável da atividade no futuro”, finalizou Watanabe.