Certa vez, um sábio anônimo – provavelmente um atendente de call center depois do quinto café – disse: “Se está na internet, deve ser verdade.” E é exatamente por essa fé cega no digital que, de tempos em tempos, alguém cai no golpe do Pix premiado, do príncipe nigeriano caridoso ou do site falso que jura ser da Caixa Econômica Federal.
Imaginem só: um aposentado acorda, pega o telefone com os dedos calejados de apertar botão de zap, e vê um anúncio piscando como letreiro de motel: “Saque seu benefício já! Caixa Econômica te dá prioridade!” O link leva a um site bonitinho, com o brasão da República, fonte Arial bonitinha, tudo oficialzinho. Só que, na verdade, ele está prestes a patrocinar involuntariamente a lua de mel de um golpista em Cancún.
Mas aí vem a pergunta de um milhão de curtidas: quem é o responsável? O vovô que acreditou? O estelionatário que já está em outro CNPJ fraudulento? Ou a big tech, que hospedou, impulsionou e ainda faturou com o anúncio?
A lógica de algumas plataformas digitais é mais ou menos assim: se uma padaria vendesse um pão envenenado e alguém morresse, o padeiro iria preso. Se um taxista transportasse um cúmplice de assalto, seria conivente. Mas na internet, se um crime acontece sob os holofotes do algoritmo, aí entra a tal da “liberdade de expressão.”
Curioso, né? Até o casamento, essa instituição cheia de bugs no sistema, tem regras. Quem já tentou sair de um relacionamento sem pagar pensão sabe que o mundo real cobra caro por certas brechas jurídicas. Mas na internet, um golpe que lesou milhares de aposentados? Ah, não tem nada a ver, são só as forças do mercado digital em ação!
Regulação não é censura. Se fosse, até campeonato de truco precisaria de Habeas Corpus. O que se discute é simples: as plataformas querem ganhar bilhões sem nenhuma responsabilidade. O carro sem freio da internet segue atropelando todo mundo, e quando pedimos segurança, eles respondem com um pop-up de “aceite os cookies”.
E assim seguimos, assistindo à briga entre ministros de Estado e CEOs de startups como se fosse final de Libertadores. No meio disso tudo, o aposentado segue sem benefício, os golpistas seguem milionários, e a big tech segue nos vendendo anúncios personalizados de meias antiderrapantes e chás para ansiedade.