Outro dia, zapeando sem rumo na vastidão da internet — esse buffet infinito de absurdos — caí num corte de vídeo onde um coach de voz impostada e cérebro improvisado declarava, com a solenidade de quem revela a fórmula da gravidade, que devemos evitar andar com gordinhos. Segundo ele, essas simpáticas criaturas só oferecem a oportunidade de… você também engordar.
Brilhante raciocínio! Na mesma linha, poderíamos evitar músicos, pois corremos o risco de começar a compor; evitar bibliotecários, porque podemos acabar lendo; e evitar italianos, sob pena de acordar um dia cantando Verdi e pedindo carbonara no café da manhã.
Esse tipo de pensamento — que chamo carinhosamente de “teoria do chiclete mental” — gruda na cabeça de quem já não pensa muito e transforma mediocridade em método. O coach, esse profeta da obviedade com pacote premium, vende tudo: desde a arte de acordar cedo (spoiler: o galo já fazia isso sem cobrar) até a promessa de emagrecer cercando-se de gente sarada e insuportável.
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Queria dizer ao coach, se ele me der licença entre um podcast e outro, que amizade não engorda. Mas burrice contagia. E, nesse caso, o ecossistema que ele recomenda é uma verdadeira academia: você entra levinho e sai carregando quilos de ignorância.
Aliás, se o ambiente faz o indivíduo, como eles gostam de repetir entre um “vamos pra cima” e outro, proponho que esses mestres do coaching troquem suas rodas de networking por rodas de samba, frequentem bibliotecas públicas e, quem sabe, sentem-se à mesa com um bom gordinho que, além de ótimo papo, sempre tem uma receita de lasanha na manga — muito mais útil do que qualquer planilha de produtividade.
E já que estamos falando disso, deixo aqui uma receita rápida, perfeita para encontros com bons amigos (magros, gordos, ou simplesmente bons):
Brigadeiro de colher com flor de sal
• 1 lata de leite condensado
• 1 colher de sopa de manteiga
• 4 colheres de sopa de chocolate em pó
• Mexa em fogo baixo até desgrudar do fundo, desligue o fogo e finalize com uma pitada de flor de sal. Sirva em potinhos. Se quiser, convide um coach para comer — ele vai recusar. Melhor: sobra mais pra você.
Porque o verdadeiro risco não é engordar. É andar com quem pensa pequeno.