Se há algo que o século XXI nos deu foi a certeza de que o Iluminismo venceu. Ou quase. Ainda acendemos velas na falta de luz, mas a eletricidade já é um conceito bem aceito. A Terra gira em torno do Sol sem maiores discussões—exceto em alguns fóruns obscuros da internet. E a democracia, bem ou mal, sobrevive ao tique nervoso dos algoritmos e ao apocalipse das redes sociais. No entanto, em meio a essa modernidade toda, eis que ressurge um suspiro do passado, um gemido nostálgico por coroas e cetros: o monarquismo.
Sim, ele ainda existe. E, mais surpreendentemente, tem representantes eleitos. A contradição já começa aí. Um vereador republicano eleito pelo voto direto… defendendo a volta da monarquia. É como um vegano inaugurando uma churrascaria ou um terraplanista dando aula de geografia. Mas, em Foz do Iguaçu, isso virou pauta oficial. Durante uma sessão da Câmara Municipal, o vereador Bosco Foz (PL) resolveu apresentar uma moção de apoio a um deputado monarquista—porque, claro, um país sem rei precisa urgentemente de uma investigação sobre Itaipu conduzida por um herdeiro de Orleans e Bragança.
A justificativa? Bem, aparentemente, o Brasil está só esperando um sinal para abolir esse pequeno detalhe chamado República e reinstalar a realeza em um trono novinho em folha (talvez financiado via emenda parlamentar). Enquanto isso, o vereador segue sua rotina de legislador moderno: posta stories, faz reels e, dizem, discursa sobre a importância da monarquia com a solenidade de um barão do café—mas sem abrir mão do contracheque republicano.
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Os monarquistas do século XXI são assim: usam iPhones para twittar que o mundo era melhor em 1822. Defendem o “direito divino dos reis” enquanto fazem transferência via PIX. Citam Montesquieu e Voltaire sem perceber que os dois ficariam pessoalmente ofendidos com a ideia. É como querer reinstalar o Windows 95 em um notebook de última geração: não faz sentido e, se funcionar, é só para exibir um erro fatal logo em seguida.
A ciência, essa ingrata, também parece rir do movimento monarquista. Afinal, o Iluminismo trouxe o método científico, a medicina moderna e a teoria da gravidade. Mas alguns ainda acham que um rei resolveria todos os problemas, como se tivéssemos esquecido que as realezas da história nos deram crises financeiras, guerras e, em casos mais recentes, reality shows desastrosos.
E o apelo republicano? Ora, a própria lógica democrática desmonta a ideia de que alguém deve governar só porque nasceu na família certa. Mas o monarquista contemporâneo não se abala. Ele segue firme, defendendo a volta de um rei enquanto usa um sistema de saúde público e critica os impostos (como se as realezas não tivessem inventado a tributação para sustentar seus bailes e castelos).
No fim das contas, a monarquia de hoje é um grande paradoxo ambulante, um anacronismo que insiste em dar as caras no meio da modernidade. Mas tudo bem. Pelo menos nos garante boas risadas—e quem sabe um novo capítulo da série “A História se Repete, Primeiro Como Tragédia, Depois Como Discurso na Câmara.”