* Ronildo Pimentel
A América do Sul é um continente surpreendente. Dentro dele, existem muitas américas. Américas que estão tão perto e ao mesmo tempo tão longe dos brasileiros. Praticamente desconhecidas. O continente Sul-Americano é formado por 14 países, o mais conhecido entre os brasileiros é o Paraguai, e mesmo assim, nada muito além do paraíso das compras de Ciudad del Este.
Este “desconhecimento” é resultado, em parte, da falta de iniciativa dos povos que habitam a América do Sul. Neste artigo, vamos focar um pouco do relevo e da cultura do Norte da Argentina e do Chile. Esta região guarda um pouco de tudo, desde moradias simples que revelam o abandono dos governos, a belezas estonteantes, misticismo, exemplos de resistência as intempéries da natureza e a vontade de garantir a sobrevivência da cultura dos povos andinos.
A cultura da nação Inca, que habitou sozinha a Cordilheira dos Andes em séculos passados, é percebida nos primeiros contatos com os nativos de Purmamarca. Esta cidade da Província de Jujuy está localizada no meio da Quebrada de Humanahuaca, das poucas passagens da sequência de montanha, no Norte da Argentina.
Nas bancas de artesanato local, uma peça que chama a atenção são os tabuleiros de xadrez. As peças, peões, cavalos, bispos, rainha e rei, retratam os incas antigos e os conquistadores espanhóis, que praticamente dizimaram os antigos moradores. Num embate, qual exército o leitor defenderia?
Nos arredores do vilarejo, é possível passear por trilhas e escalar montanhas e contornar o Cerro de Las Siete Colores, onde as rochas tem cores diferentes, surgidas em diferentes idades geológicas. Nesta região também são comuns os rios de degelo, que tem água apenas quando derrete a neve no alto da cordilheira.
De volta à estrada, vencer os caracóis e chegar ao ponto mais alto dos Andes nesta passagem, a 4.174 metros acima do nível do mar. Desnecessário falar da falta de oxigênio e as inevitáveis náuseas. Mas é tudo parte de uma américa ainda pouco conhecida da maioria dos brasileiros. O caminho ainda reserva a Salina Grande de Salta, um pouco antes do Paso Jama, na fronteira da Argentina com o Chile.
Ao cruzar o Paso os primeiros contatos com o deserto as belezas do Salar de Atacama, cujo ponto de partida é o pequeno vilarejo de San Pedro de Atacamana. Nesta região, carregada de misticismo e registros de povos antigos que usavam suas instalações para vencer o mais árido e alto deserto do nosso planeta.
De carro particular, é possível percorrer os principais pontos de atração turística, desde o pequeno vilarejo de Toconao no entorno da igreja construída em 1744, a beleza verde-turquesa das águas das lagunas do complexo Céjar e as impressionantes formações rochosas, de sal cristalizado, dos vales de La Luna e de La Muerte, estes dois últimos na mesma região da Cordilheira de La Sal.O passeio do complexo del Tátio, campo geotérmico localizado a mais de 4.300 metros de altitude e que abriga mais de 100 gêisers, semelhantes aos do Parque
Yellowstone, nos Estados Unidos e que se tornaram mundialmente conhecidos com ajuda do desenho animado do urso Zé Colméia.
O continente Sul-Americano esconde muitas américas. Para conhecer precisa disposição. No percurso é comum encontrar turistas que chegam das mais variadas formas – ônibus, moto, veículos, avião, ou mesmo em bicicletas ou caminhando. O que vale mesmo é o contato com culturas tão distintas e únicas, experiência para a vida toda.
* Ronildo Pimentel é jornalista e editor do Cabeza News. Artigo publicado originalmente na revista Ideias, em 2014.
Fotos: Ronildo Pimentel e Nádia de Souza