As informações do Waze for Cities são sincronizadas com um mapa da cidade que mostra os principais pontos e horários de congestionamento
Congestionamento de trânsito é uma realidade enfrentada diariamente por motoristas. E o problema não é novo: o primeiro engarrafamento teria sido registrado 1921, nos Estados Unidos. Essa dificuldade, presente hoje em cidades de todos os portes, levou à criação de aplicativos de navegação, como o Waze, que têm solucionado, ou ao menos amenizado, o problema. Mas, além de serem úteis como soluções individuais, os aplicativos de navegação podem ser usados também na gestão da mobilidade urbana. Captar, extrair e transpor esse tipo de dados é o objetivo de uma ferramenta que vem sendo desenvolvida pelo grupo de pesquisa em Mobilidade e Matriz Energética da UNILA.
Com o acesso ao Waze for Cities – dados de trânsito fornecidos para a gestão de trânsito – e utilizando a linguagem Python (para computador), o estudante de Engenharia de Energia João Gabriel de Souza Mesquita, integrante do grupo, une as informações geradas a partir dos usuários do aplicativo a um mapa georreferenciado desenvolvido pelo docente de Geografia Diego Flores, que também faz parte do projeto.
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Os dados são captados em um computador de configuração avançada por um período determinado (de 24h a 72h, por exemplo) – e sincronizados com o mapa. “É como se fosse uma fotografia daquele período, só que registrada em dados. A cada momento, a cada relatório, os dados vão me dizer qual é o local de engarrafamento, qual é a velocidade média, qual é o comprimento do engarrafamento, a posição exata. O diferencial, então, é que podemos fazer análises estatísticas e oferecer ao município”, detalha João. “É uma forma de otimizar e possibilitar a melhora dos pontos de congestionamento em uma cadeia”, completa o também estudante de Engenharia de Energia Gabriel Soares, que encabeça a empresa júnior Energética, à qual está ligado o projeto que pode tornar-se, futuramente, um produto a ser oferecido.
“Essa não é uma ferramenta para o usuário final. Essa é uma ferramenta para a gestão de trânsito da cidade”, reforça o docente Ricardo Hartmann, coordenador da pesquisa. Por isso, o projeto tem parceria da Foztrans e da Guarda Municipal, responsável pelo Programa Vida no Trânsito em Foz do Iguaçu. Este tipo de trabalho já é desenvolvido em Joinville (SC), entre a UFSC e Secretaria de Pesquisa e Planejamento Urbano (Sepur), exemplifica ele.
O pesquisador lembra que “analisar a evolução histórica e tecnológica das cidades contemporâneas” é uma atividade de pesquisa que envolve diversas áreas de conhecimento e que o trabalho de planejamento e mobilidade urbana exige uma equipe multidisciplinar – engenheiros, geógrafos, arquitetos entre outros. Por isso, a parceria entre universidades e o poder municipal é uma solução possível para a busca de estratégias que melhorem o trânsito. “Não há como haver planejamento urbano sem uma boa equipe. Ao mesmo tempo, a parceria nos ajuda a fazer pesquisa e ensino de qualidade”, destaca Hartmann.
Camadas
O trabalho está em sua primeira fase, que é o desenvolvimento da ferramenta em si – a transposição dos dados de trânsito para o mapa da cidade. Nas próximas etapas, serão adicionadas “camadas” que irão indicar em quais pontos existem lombadas, geradores de trânsito (escolas, igrejas), semáforos entre outros aspectos. “A ideia é que esses dados cheguem à Foztrans e à Guarda Municipal e que eles tenham numa sala de controle todas essas camadas”, pontua Hartmann. Após, serão adicionados algoritmos para o cálculo de consumo de combustível, custo e emissões de CO2 causados pelos congestionamentos, que estão sendo desenvolvidos dentro das pesquisas de nosso projeto com Termodinâmica das Cidades”, completa. O relatório com os primeiros resultados obtidos com o mapeamento será divulgado no Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes de Mobilidade Urbana, que será realizado nos dias 13 e 14 de setembro, em Foz do Iguaçu.
O trabalho desenvolvido pelo grupo de pesquisa da UNILA irá complementar dados que o município já dispõe para a gestão do trânsito, diz o diretor-presidente da Foztrans, Fernando Maraninchi. “[O trabalho] demonstra a necessidade de se continuar investindo cada vez mais em mobilidade urbana. Não é só colocar ônibus, é principalmente, abertura de vias e um planejamento urbano sustentável”, comenta, lembrando que existem muitos vazios urbanos na cidade que trazem prejuízos ao desenvolvimento do município. “Esses loteamentos são construídos, cada vez mais, distantes do centro”, diz, o que provoca diferentes problemas de mobilidade e exigem abertura de vias, por exemplo. Segundo ele, os dados iniciais obtidos com o projeto foram repassados para outras instâncias, como a Engenharia de Trânsito, para possíveis alterações no sistema atual, como implantação de semáforos ou ampliação de tempo semafórico e a colocação de faixas elevadas. “Vimos com bons olhos essa parceria com a UNILA e o acredito que teremos bons frutos.”
Para o coordenador de Trânsito da Guarda Municipal e do Programa Vida no Trânsito em Foz, Gerson Rodrigues Vieira, o uso da tecnologia a ser disponibilizada pelo estudo pode contribuir para a redução do número de acidentes. “A tecnologia está aí e temos de aproveitar tudo que pudermos para beneficiar a população”, comenta citando como exemplo a realização de estudos de viabilidade para a construção de passarelas, ciclofaixas, abertura de ruas e interligação de bairros. “O uso de aplicativos e de ferramentas pode contribuir significativamente na redução de acidentes e desobstrução do trânsito em todas as regiões”, reforça, lembrando que os pontos mais críticos de congestionamento estão próximos à Ponte da Amizade, acessos aos atrativos turísticos e BR-277. “Temos hoje uma única entrada para a cidade e isso acaba gerando um fluxo maior.”