O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a defender neste sábado (15) a instalação de uma base militar na tríplice fronteira entre o Brasil (Foz do Iguaçu), Argentina (Puerto Iguazú) e Paraguai (Ciudad del Este, Presidente Franco e Hernandarias). Bolsonaro, que será julgado a partir de 25 de março no STF por tentativa de golpe, não adiantou os motivos da sua pretensão na região, além de atender aos interesses norte-americanos.
“Até falei um tempo atrás: se eu voltar a ser presidente, vou fazer uma coisa que o americano já tem desejo, botar uma base na tríplice fronteira”, disse o ex-presidente à Rádio FM 93. “Ali tá o pessoal do Hezbollah, do Hamas. Nós não temos estrutura para suportar esse povo lá”, completou.
Ainda em fevereiro, Bolsonaro já havia externado sua proposta à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. Disse ainda que seguiria o o presidente dos EUA, Donald Trump, e retiraria o Brasil de organismos internacionais caso volte à presidência. “Eu, se for presidente de novo, saio do Brics [que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, entre outros] e da OMS [Organização Mundial da Saúde]”.

Reação
Naquele mês, autoridades de segurança da região não comentaram as declarações e tampouco os agentes políticos, operadores de turismo e até a comunidade árabe, também não se manifestaram sobre a declaração bolsonarista que voltou a apontar a presença de terroristas árabes (Hezbollah, Hamas) na tríplice fronteira.
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Em 2002, a reação foi diferente. Foz do Iguaçu se mobilizou contra as mentiras espalhadas na imprensa internacional. Em 2002, o Município moveu uma ação de reparação de danos contra a CNN por prejudicar a imagem do destino turístico e a comunidade árabe. A CNN não respondeu à ação, fechou seu escritório no Brasil (em São Paulo) e as fake news pararam de macular a imagem da cidade e da região.

“O governo americano e seus canais de mídia têm o direito de se preocupar com o que quiserem, de desconfiar de qualquer um. Podem alimentar à vontade suas paranóias, pensando que o terrorismo tem a ver com o narcotráfico e que o narcotráfico se deve à concentração de imigrantes árabes na tríplice fronteira. Só não podem os americanos ficar espalhando pelo mundo tais idiotices, estigmatizando um povo ordeiro que ajudou a moldar esta fronteira; não podem comprometer o turismo, principal atividade econômica da região com apenas suspeitas de atividades terroristas em potencial, com base em indícios que não comprovam em sua concretude”, diz trecho da ação movida pelo Procuradoria Geral do Município em dezembro de 2002.
Centro de Operações de fronteira
Outra estrutura que refuta a intenção de Bolsonaro completa quatro anos em 2025. O Centro Integrado de Operações de Fronteira, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, instalado em Foz do Iguaçu, tem um Centro de Comando e Controle (C2) que desencadeia ações conjuntas na região.
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O C2 troca de informações, planejamento estratégico e coordenação entre diversos órgãos de segurança pública, fiscalização e defesa dos três países. Até abril de 2023, centro de controle realizou 19.112 atendimentos a operadores de segurança pública, dos quais 7.820 apresentaram algum indicativo criminal nos sistemas pesquisados ou alguma suspeição sobre a pessoa ou veículo analisado, tais como mandados de prisão ativos, alertas de furto e roubo, histórico criminal, flagrantes e apreensões.
Dos 823 mandados de prisão localizados nos sistemas e informados aos operadores de segurança pública que realizaram consultas ao C2, ou enviados às forças de segurança como “alertas”, 291 foram efetivamente cumpridos. Também foram registrados 481 flagrantes decorrentes das consultas ao C2, totalizando 772 detenções efetivas entre 1º de junho de 2021 e 30 de abril de 2024.