Política e sociedade

Rosangela, Moro e o Bebê Reborn !

No Brasil, meu caro, até o amor precisa de política pública
Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Por Nelo Morlotti

O bebê que nasceu de silicone”

Não é todo dia que o Congresso Nacional se vê às voltas com fraldas de brinquedo, choros programados e carrinhos empurrando o vazio afetivo da nação.

Mas essa semana, meus caros, Rosângela Moro — ela mesma, a Barbie de Curitiba com mandato em Brasília — resolveu fazer um carinho legislativo nas almas que embalam bonecos hiper-realistas como quem embala o luto, o afeto ou a falta dele.

O projeto é nobre, diz ela: incluir no SUS acolhimento psicológico para quem desenvolve vínculos com bebês reborn. Reborn, para os desavisados, são bonecos tão realistas que o Freud se revira no caixão só de imaginar o que a pulsão de vida anda fazendo por aqui.

Leia também

Imagine você chegar ao posto de saúde com um boneco de vinil nos braços e ser atendido com escuta qualificada, ficha preenchida e, quem sabe, uma gotinha de Rivotril para a alma — que, convenhamos, anda mais furada que colchonete de alojamento.

Mas não se trata de zombar de quem encontra no silicone o calor que o mundo não deu. É que vivemos tempos em que os afetos migraram para territórios inusitados. Tem gente que chora por inteligência artificial, que envia flores para influencers que nunca verão, que se sente órfão quando o algoritmo muda. Nesse contexto, amar um bebê reborn talvez seja o mais humano dos delírios.

O problema — e sempre há um — é quando a pauta vira disputa de trincheira. Do outro lado do plenário, surgem os paladinos da moral pública: “Vão gastar dinheiro do povo com boneco?”, bradam, como se o povo não gastasse há décadas com bonecos bem mais perigosos em ternos e gravatas.

E aí entra em cena o deputado que quer proibir o atendimento de qualquer reborn, como se o problema fosse o plástico do boneco, e não o vazio que ele preenche. Outro quer impedir que a senhora com o boneco pegue fila preferencial — talvez esquecendo que o Brasil já virou fila sem fim pra todo mundo mesmo, com ou sem criança.

No fundo, essa crônica é sobre carência. A de quem precisa do boneco, a de quem legisla sobre ele, a de um país que não sabe mais lidar com a solidão coletiva. O reborn é só um espelho: não sorri, mas reflete.

E se você acha tudo isso um exagero, recomendo olhar ao redor. Talvez o vizinho do 402 esteja há meses conversando com uma Alexa que responde mais que os filhos. Talvez a moça da padaria trate seu gato como filho porque o namorado foi embora levando até o filtro de barro.

No Brasil, meu caro, até o amor precisa de política pública.

Mais notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *